sábado, 14 de maio de 2011

Rafael e seu amigo Joao Vitor

Estávamos na fazenda, Laura com o Zé Carlos, os filhos Rafael e Thiago na época meus únicos netos, e se mais gente já não me lembro. Thiago era de colo e Rafael com 3 anos ficava o dia todo comigo pois não tinha ninguém de sua idade para ele brincar. Ficávamos na areia da praia da casa brincando e quando tinha que fazer algum serviço ele ia comigo. Então descobrimos que na fazenda Santa Catarina tinha uma criança da sua idade, neto de seu Assis, nosso amigo e vizinho.
O programa foi fazer uma visita a ele, para o Rafael passar a tarde com o amiguinho. No começo ele não queria ir e tive que contar uma história comprida, que era um garotinho que morava no mato, não tinha televisão e nunca viu um carrinho daqueles dele, e que ficaria muito feliz de ter um companheiro da mesma idade para brincar. Com isso ele se entusiasmou e foi com todos os seus carrinhos.
Aqui temos que fazer um parêntese para falar de Rafael e o ciúme que tinha de seus carrinhos. Em São Paulo ele tinha monte e não deixava o Thiago mexer em nenhum. Em uma ocasião, eu brincando de garagem com ele, e estacionando todos em ordem, o Thiago começou a chorar que queria participar também e ele não deixava, argumentando que o irmão não sabia brincar e queria comer os carrinhos. Quando pedi a ele que desse, pelo menos um para o irmão, ele olhou todos, pegou um Fiat amarelo já sem portas e o entregou dizendo: " Ta bom, ta bom, toma Thiago, baba nesse".
Já na fazenda ele devia ter só uns três ou quatro, desses de plásticos maiores e próprios para brincar na areia. Pegou todos, colocou numa caixa e fomos para a fazenda do vizinho. No começo foi aquela sem graceira de ficar grudado na perna da gente, mas com o tempo foram se soltando e em dois tempos estavam transportando areia de um lugar para o outro. O João Vitor, esse era o nome do gurizinho de seu Assis, ficou encantado com os brinquedos e passaram a tarde toda brincando. Tinha uns dois caminhões basculantes, um de carroceria trucado, uma pá carregadeira e não lembro mais o que. O João Vitor tinha um feito de uma lata de azeite e cheio de areia que nivelava as ruas para facilitar o tráfego dos outros. Dava gosto de ver duas crianças de origens tão diferentes se entendendo tão bem. Um super urbano e outro criado na fazenda desde que nasceu.

No final do dia, quando nos preparamos para voltar para Piratininga, o Rafael deu a primeira refugada, não queria ir. Depois de prometer que voltaria um dia, ele começou a arrumar seus carrinhos. A Laura perguntou a ele se não queria dar um de seus carrinhos ao João Vitor. Ele abriu o maior sorriso e começou a escolher. Aí aconteceu o fato que tornou o motivo desta história. Ele pegou o mais bonito e mais novo de todos e estendeu ao seu novo amigo. Este ficou sem ação, pois não esperava que ele desse aquele do qual mais gostava. A mãe do menino, percebendo que era o mais novo, não quis aceitar e pediu que ele desse um outro mais velho e com o eixo dianteiro já meio torto. Aí a Laurinha interferiu e falou que se ele quem tinha escolhido era para deixar. Os dois com aquele brilho nos olhos acabaram me emocionando. Um tendo o prazer de doar e o outro de receber.
Desde aquela época eu já sabia que esse meu neto ia ser um grande sujeito e até agora ele não me decepcionou, nem uma única vez.

2 comentários:

  1. Sei que sou suspeita para falar, mas você conta as historias de uma maneira muito gostosa de ler, por mais simples que seja, sempre emociona .......
    Beá

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  2. Vou apenas ser consoante a Dona Beá...
    Você consegue contar de maneira fácil, gosta de ler e coloca uma emoção tão refinada que a gente se sente como vendo um filme.
    Sensacional!

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