Papai foi um estudioso das palavras. Gostava de conversar sobre as mesmas e observar que o significado e a pronuncia de muitas delas tinham em uma correspondência biunívoca, ou seja, uma feita para a outra. Ele tinha vários exemplos e me lembro de alguns: Terremoto, você ao falar já se treme todo. Escarro, acabou de falar a palavra, pode cuspir. Assopra, faz um vento louco enquanto você fala. Rapadura, nunca poderia ser uma coisa mole, mas eu questionava essa, por causa do dura.
Outras que ele gostava de estudar eram as parecidas, mas de significados quase que opostos. Gostava de falar que tirando o n da teNsão, acaba o problema e o relaxamento é automático, lógico que após o ato. Trocando o lugar do R e o que era peRfeito passa a ser a coisa mais difícil de alguém achar ali.
Quando ele descobriu que Boing era sobrenome de um dos fundadores da empresa,William E. Boeing e não do jato devido ao barulho que ele produzia, ficou encantado. Esse cara não poderia trabalhar com outra coisa, tinha que ser com jato. O nome dele é o barulho de um jato passando.
E as palavras que são proveniente do barulho que produz, como o Bem-Te-Vi. Então ele exagerava e falava que "estrondo" e "assovio" também eram, e dava risadas para ninguém pensar que ele era besta. E quando ele separava as palavras para saber a sua origem. Vira e mexe saía besteira, como "Felicidade", que ele concluía que era comprimento de aniversário e a síntese de feliz idade, felizidade e, por fim, felicidade. E vai discutir com ele. E então eu gozava que vagabunda era uma bunda mal definida, pois uma coisa vaga, era uma coisa incerta e bunda...
Agora, sem ele, vira e mexe eu me flagro analisando as palavras também e toda vez que encontro alguma engraçada, lembro-me dele. Hoje, 15 de março de 2011, completam quatro anos que ele se foi e com ele as brincadeiras com as palavras. Vou fazer um dicionário de todas que lembrar e colocar aqui para não caírem no esquecimento.
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