segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Cadeia nele

Essa é recente, não tem mais que 15 dias. Eram duas da tarde quando recebi o telefonema de meu mestre de obras. A polícia tinha prendido dois funcionários nossos, um pedreiro e um servente. Estavam na federal e iam em cana. Nem perguntei o motivo da prisão, já imaginando bebidas e brigas e fui para lá. Chegando na delegacia, encontrei o servente em prantos. Era o mesmo que, uma vez trabalhando na fazenda, correu de um lote de vacas achando que elas iam mordê-lo. Até escrevi essa história aqui. Fiquei muito preocupado, pois pelo choro parecia que tinha apanhado. Quando consegui acalmá-lo ele começou a falar coisas desconexas, que a mulher ia largar dele, e na hora achei que ele tinha, no mínimo, fumado maconha estragada. Quando perguntei o motivo da mulher deixá-lo ele respondeu:
- O senhor acha que ela vai acreditar que fui preso porque estava trabalhando. Nunquinha.
Nesse momento a delegada, muito gentil e simpática por sinal, me pediu que entrasse em sua sala que iria me explicar o que estava acontecendo. A obra que eu estava fazendo foi embargada pelo Iphan e eles não haviam respeitado o embargo e me mostrou os documentos assinados pelo meu mestre de obras. Eram dois: uma cópia da notificação para apresentação de documentos, e uma fotografia do documento de embargo. Este ela não tinha copia, pois a mesma estava afixada no muro da obra. Foi aí que tudo se esclareceu. A casa que eu estava reformando estava na área tombada da cidade. Quando fui murar o terreno em frente da construção, o mesmo ia obstruir a visão da casa e pediram apresentação de um projeto para aprovação, através de uma notificação que chegou as minhas mãos e um documento de embargo paralisando simultaneamente a obra, que foi fixado no muro, e sem cópia para meu conhecimento. O mestre de obras achando que se tratava de um único documento, levou o primeiro para mim e nem citou que tinha uma "cópia" pregada no muro, dizendo que a obra estava embargada. Quando li a notificação, ainda reclamei que ele nem sabia ler direito e mandei continuar o serviço. Explicado isso tudo para a delegada, que fez um relato completo da minha versão, me fez dar ciência de que a obra estava embargada e soltou os presos.
O chorão queria entender o que ele tinha feito para ser preso e fiquei muito preocupado. Já pensou se ele estava trabalhando firme na hora que a policia chegou? Não teria desculpa melhor para nunca mais pegar pesado no serviço. Iria falar para todo mundo que, neste país, quem trabalha muito duro, acaba na cadeia e ninguém ia poder desmenti-lo. Por isso que, cada vez mais, concordo com aquele amigo que para tudo fala "NÃO É FÁCIL", mas não está nada fácil mesmo tocar as coisas por aqui.

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