quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Viagem a Goiânia

Começamos a mexer com confinamento assim que Guilherme se formou. No início, de forma bastante tímida, arraçoando o gado no próprio pasto, quando este estava seco. Com os bons resultados, fomos incrementando o negócio e hoje temos uma estrutura razoável onde conseguimos dar acabamento em 2000 reses simultaneamente e, dependendo da estação da seca, rodar até 3 lotes por ano, ou seja 6000 reses. As gavetas onde as reses ficam confinadas são alinhadas e em número de 8, e os cochos fazem uma reta de mais de 320 metros de comprimento. A idéia é ir aumentando as linhas passando de duas para cinco.
Com isso recebemos um convite para participar de uma conferência de confinadores em Goiânia, melhor ainda, para a Ema participar de uma mesa redonda onde seriam apresentados vários problemas brasileiros e como estão sendo resolvidos. Depois de alguma discussão e definirmos que o Beto, meu filho mais velho e diretor da Ema, como agrônomo e quem está no dia a dia da empresa seria a pessoa indicada para essa apresentação, nos preparamos para a viagem, que para mim e Guilherme passou a ser passeio e para Beto, meio tortura.
Goiânia tinha outro atrativo para mim, era a terra do Marcelo Pimenta, meu amigo de 30 anos atrás e que eu não via há 25, e que também participaria da conferência. A viagem foi muito proveitosa, mas nem por isso menos cansativa. Nosso vôo de ida saía de Campo Grande às 4h da madrugada, e tínhamos que estar no aeroporto às 3h. Fizemos Corumbá - Campo Grande de carro, e éramos para sair logo após o almoço e dormir cedo, mas o Guilherme foi enrolando e acabamos saindo às 5h da tarde e fomos chegar em Campo Grande às 10h da noite. Até jantar, deitamos as 11:30h e acordamos às 2h. Já estava resolvido que chegando em Goiânia, mataria a abertura da conferência e ficaria dormindo a manhã toda. Chegando ao hotel, morto de sono, veio a notícia de que nosso quarto só seria liberado após o meio dia. Tomamos o café da manhã e fomos para dormir na conferência.
O encontro com o Marcelo foi de cinema. Num saguão lotado de gente, vejo ele se afastando rápido e reconheci o seu andar apressado. Saí atrás e só o alcancei porque ele parou para conversar com um grupo de amigos. Cheguei por trás dele e falei:- Rapaz, te conheci pelas costas.Nos abraçamos e ele já respondeu:- Não fale assim na frente de meus amigos que não sei o que eles podem pensar.Fizemos festa e passamos três dias almoçando, jantando e assistindo palestras juntos. Foi e continua sendo um grande amigo.

No dia da mesa redonda do Beto, não sei se por qual dos motivos, foi o melhor do encontro. O mediador quis reunir três pessoas com grandes problemas e mostrar aos participantes que com trabalho e conhecimento eles podem ser resolvidos. Convidou o diretor da Folha de São Paulo para falar dos problemas na determinação da quantidade de jornais a serem impressos por dia. Quando você começa a se inteirar do problema é que percebe a dimensão dele. Quanto produzir de um produto extremamente perecível, jornal do dia anterior não tem nenhum valor, de tempo de distribuição absurdamente curto e com uma quantidade de pontos de venda absurdamente grande. A segunda convidada foi a diretora de recursos humanos da Natura, que comercializa um produto cuja vida média, do lançamento de um perfume até a sua retirada, é de aproximadamente 6 meses e a quantidade vendida para absorver os custos fixos tem que ser meio grande.E o Beto, diretor da nossa empresa pecuária, operando nesse pantanal com um ciclo de águas que fazem os suportes das pastagens variarem de maneira meio absurda, com uma logística de transporte dificílima e isolado de tudo e de todos. Fiquei muito orgulhoso de ver meu filho falando para una platéia tão seleta e, modéstia a parte, ele se saiu muito bem. Isso foi no segundo dia e nós já recuperados da viagem fomos comemorar o resultado do Beto. Marcelo nos levou ao point de Goiânia, onde tomamos um tipo especial de cerveja, a tal da Devassa, fermentada de trigo ao invés de cevada, e que considero hoje, como a melhor que já tomei na vida. Saímos trançando pernas.

O último dia do encontro foi reservado para visitar um dos maiores confinamentos de Goiânia, onde eles fazem a engorda simultânea de mais de 30.000 reses. Foi muito proveitoso conhecer a logística de transporte, acompanhamento e embarque de tanto gado. Na volta da visita aconteceu um fato engraçado. O Marcelo começou a falar de sua preocupação com a filha que está com 17 anos e ia para a faculdade e ele, por demais ciumento, questionando se conseguiria deixá-la ir morar sozinha em outra cidade. Usei toda a minha psicologia, falando coisas inéditas do tipo, "criamos os filhos para o mundo" (eu devo ter escutado isso umas 100 vezes), mas não consegui acalmá-lo muito, o bicho é por demais ciumento. Na chegada da visita ele quis nos levar em sua casa para conhecermos os filhos e rever sua esposa. Quando me apresentaram a Vitoria, esse era o nome de sua filha, falei na hora para ele:
- É companheiro, agora entendi a sua preocupação. Você tá ferrado.
É uma morena maravilhosa. O filho Gabriel, com 13 anos, é cara do Harry Porter e só fui descobrir isso depois que voltei para Corumbá. Foi uma viagem muito proveitosa, onde aprendemos muito, convivi 3 dias com meus dois filhos e revi um grande amigo. Nota 10.

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