segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Enganos

A lembrança passada foi sobre coincidências, que é aquele fato pouco provável que vem a ocorrer. Entretanto existem outras coisas que, às vezes, nos levam a procurar explicações fora da lógica e acabam ficando completamente fora da realidade.
Eu e Tontonio tínhamos um quarto de solteiro enorme. Tinha uns 6 metros de largura por 12 de comprimento. Talvez 5x10, e o fato da gente ser pequeno fazia ele maior. Como ele esta lá ainda, um dia vou passar uma trena nele para conferir. A minha cama ficava do lado da porta balcão que dava para a varanda e a do meu irmão ficava ao lado da minha, dando para a porta de entrada do quarto. Tinha um corredor interno que comunicava a escada com todas as peças do andar superior, quartos e banheiros. A invenção da suíte foi junto com o controle remoto da televisão. O interruptor de luz ficava junto a porta de entrada do quarto e conseqüentemente mais perto da cama dele. Me lembro que ele deitou por último, mesmo isso tendo acontecido há mais de 50 anos e esqueceu a luz acesa. Depois de deitado falou:

- Você não urinou ainda. Quando for, apaga a luz.

- Boa tentativa. Mas já mijei e você que deixou a luz acesa.

- Você é mais novo, pô! Apaga lá.

- Vai se ferrar. Você que esta mais perto do interruptor.

- Vou dormir com a luz acesa então. Ela incomoda você e não a mim.

- Papai vai ficar puto e vou contar que você que deitou por último e não apagou.

O tom de voz e o palavreado foram ficando mais forte e já estava de filho da puta pra cima, quando a luz apagou sozinha. Foi aquele silêncio total naquela escuridão. Parece que passou o mesmo tempo para cair a ficha que alguém do além, não gostando daquela discussão, resolveu interferir apagando a luz. Como um raio, ou como dois raios, catamos o essencial, colcha e travesseiro, e despencamos para o quarto de mamãe. Se alguém pensar que, eu com 11 anos estava com medo de assombração, quero lembrar que meu irmão é três anos e meio mais velho e saiu na frente.
Dormimos do chão do quarto dela e, antes, brigamos mais um pouco, um xingando o outro baixinho, para não acordar os velhos, e também para diminuir o medo.
Se não comentássemos o acontecido no almoço do dia seguinte, o credito pela apagada da luz ficaria por conta de forças do além, mas papai começou a rir e esclareceu. Ele tinha levantado para ir ao banheiro e do corredor escutou o bate boca e ficou preocupado de largarmos a luz acesa. Como sempre que fazíamos isso ele falava que não era sócio da Ligth, resolveu encerrar o assunto e apagar para a gente. Fez isso do corredor mesmo, achando que tínhamos visto ele e foi para seu quarto. Como vacilamos na corrida, quando chegamos ele já estava deitado e ainda acompanhou os cochichos. Fingiu que estava dormindo, pois se víssemos que ele tinha ouvido a baixaria, teria que nos executar e aquela hora não era oportuna. Aproveitou para nos explicar que as coisas mais lógicas são as últimas em que pensamos, principalmente quando estamos com medo e completou falando:

- Forças do além, só na cabeça de vocês.

Mas foram as forças do além que nos livrou daquela puteada e possível castigo naquela hora da noite.

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