Devia ter 18 anos quando pegamos o trem em Corumbá. Era época do governo militar e o país estava quase em uma guerra civil. Os comunistas querendo dominar o governo assaltando bancos para financiar seu intento e o governo prendendo todos os suspeitos e, até os não muitos. A coisa não estava nada bonita. Eu, com aquela idade, meio comunista e papai, 37 anos mais velho, inteiramente governista. Nós dois viajando sozinhos, aquela era a discussão do momento. Ele ia até São Paulo comigo para me ajudar a levar o carro e voltava de avião. Ele era tarado por viajar de carro e até isso ele fazia. Pegávamos o trem até Campo Grande e de lá seguíamos de fusca para São Paulo. Embarcávamos antes da janta e comíamos no vagão restaurante do trem que era muito bom e fazia um bife a cavalo famoso. Quando fomos para o restaurante o mesmo estava lotado e tinha uma mesa reservada. Papai não percebeu e sentou nela. Quando o garçom pediu que ele saísse, ele se dirigiu a mim, em tom sério e disse:
- Sargento, você esqueceu de reservar a minha mesa?
Como estávamos na conversa que os militares que mandavam no país e na época eu era inteligente e pegava as coisas no ar, respondi:
- Meu General, o erro deve ser da NOB, pois ao pegar as passagens avisei ao chefe da estação que o senhor jantaria aqui e exatamente (consultei meu relógio) às 19:20h.
- Muito bem, sargento. Virando para o garçom ele pediu que chamasse o responsável.
Ao invés disso o garçom puxou a cadeira novamente para ele que já estava de pé e já entregou o cardápio. Sentamos e comemos, não sem um certo receio da mesa estar reservada para um general de verdade.
Acho que foi uma das únicas vezes que vi papai fazer uma coisa duvidosa, se passando por outra pessoa. Lembro ainda da conversa, ele querendo saber as patentes da marinha pois esperava que eu o chamasse de Almirante ou Capitão de Fragata, que nem o Holanda, seu amigo. Ele se achava mais parecido com um do que com um general. Mas com o "sargento" eu me lembrei de exercito e já toquei a patente mais alta que conhecia. E depois deu certo, não deu?
- Sargento, você esqueceu de reservar a minha mesa?
Como estávamos na conversa que os militares que mandavam no país e na época eu era inteligente e pegava as coisas no ar, respondi:
- Meu General, o erro deve ser da NOB, pois ao pegar as passagens avisei ao chefe da estação que o senhor jantaria aqui e exatamente (consultei meu relógio) às 19:20h.
- Muito bem, sargento. Virando para o garçom ele pediu que chamasse o responsável.
Ao invés disso o garçom puxou a cadeira novamente para ele que já estava de pé e já entregou o cardápio. Sentamos e comemos, não sem um certo receio da mesa estar reservada para um general de verdade.
Acho que foi uma das únicas vezes que vi papai fazer uma coisa duvidosa, se passando por outra pessoa. Lembro ainda da conversa, ele querendo saber as patentes da marinha pois esperava que eu o chamasse de Almirante ou Capitão de Fragata, que nem o Holanda, seu amigo. Ele se achava mais parecido com um do que com um general. Mas com o "sargento" eu me lembrei de exercito e já toquei a patente mais alta que conhecia. E depois deu certo, não deu?
Nenhum comentário:
Postar um comentário