segunda-feira, 18 de julho de 2011

Coisas da vida

Foi nas últimas férias em Paraty. A turma era a mesma de sempre. Meus filhos Laura e Guilherme com a tropa completa deles. Já falei em outras histórias que eles me convidam para ir passear lá e já reservam hotel para mim. A consideração fica por conta da proximidade do hotel onde, da sala de café, eu vejo a casa dela. É quase uma extensão da mesma. De vizinho tem a Ju com o Kiko e os filhos João, Maria e Ana. Esta última é a protagonista desta história.
Era o penúltimo dia das férias e fomos, como sempre, para uma das ilhas da redondeza. O "Ninja", esse é o nome do barco do Zé, com a nossa turma e o "Paganada", o sobrenome do Kiko é Pagano, com a turma dele. Não sei porque cargas d'água resolvi levar 50 reais no bolso do meu short de banho. Normalmente o dinheiro fica na bolsa de Bea. O barco não encosta na praia mas fica a uma distância que qualquer um que saiba nadar a alcança com facilidade. Caímos n'água e não fomos direto para a praia, ficamos brincando nas beiras. A Aninha que devia estar com 6 para 7 anos e estava ao meu lado, começa a gritar toda feliz que tinha achado 50 reais. Na hora bati a mão no bolso e não encontrei minha nota, que estava escoteira nele. Começou um dialogo muito engraçado. Por impulso eu falei:

- Aninha, que sorte, você achou os meus 50 reais.

- Sorte minha, pois agora são meus.

- Aninha, Você vai ficar com o meu dinheiro?

- Seu até a hora que você perdeu, meu, depois que eu achei ele.

Meu Deus, 6 anos!, não acredito. Tentei ainda um último argumento:

- Aninha, quando a gente acha alguma coisa, antes de guardar no bolso, temos que procurar seu dono. Muito feio isso. 

Pensei com meus botões, com essa ela devolve.
Ela pegou o dinheiro, olhou de um lado, virou a nota e olhou do outro e falou:

- Não foi essa nota que você perdeu. Não tem nada seu escrito nela. Vamos procurar a sua. Eu ajudo.
Não agüentei e dei risadas e pensei, sem falar nada: “ela merece .. e eu também”.
Mas o mundo é redondo e da voltas. No dia seguinte, estava sentado na soleira da porta da casa da Laura, as soleiras lá são altas por causa da maré e tornam-se uns banquinhos muito confortáveis. Vi um objeto brilhar no chão, na rua, e o peguei. Era um cachorrinho de porcelana muito bem feito, coisa minúscula, pouco maior que um grão de milho, mas dava para ver que era um poodle, todo branco com uma coleira azul. Achei aquilo e guardei. Quando chegou a criançada, mostrei ao Thiago primeiro e todos queriam ver. Com medo de cair e quebrar eu não o entregava na mão de ninguém. Aí chegou ela, nem mais nem menos que a Aninha.
Quando viu a porcelana começou a gritar:

- É meu, é meu. Eu perdi ele aqui na porta. Me dá, me dá.

Falava e pulava sem sair do lugar.
Por ato reflexo já ia entregando a ela quando lembrei das 50 pilas do dia anterior e disse:

- Falastes mal. Era seu até o dia que você perdeu. Agora que eu achei é meu. Mas espere ai.
Deixe eu ver de tem seu nome escrito aqui.

Olhei o cachorro de frente, lado costas, cabeça para baixo e nada. Virei para ela e falei:

- Vamos procurar o seu que esse aqui é o meu.

Quando vi seus olhinhos cheios de lagrima falei:

- Você gosta muito desse cachorrinho?

Seus olhinhos brilharam enquanto fazia que sim com a cabeça.

- Então.., vejamos, você acha que ele vale...assim... umas 50 pratas?

- 50 PRATAS? Onde você acha que vou arranjar isso?

- Que tal aquela nota que você achou na praia ontem?

Aí caiu a ficha dela, era vingança. 

- Gastei tudo com sorvete ontem mesmo, e paguei para o Thiago e o Rafa, seus netos.
Ela merecia.
Peguei o cachorrinho e dei a ela dizendo que esse era presente meu, pois o dela devia estar latindo por ai.
Foi minha vingança maligna.

2 comentários:

  1. Como sempre muuuito bem escrito! Gostoso de ler.
    Isso é exatamente a Aninha!
    Abração,
    Kiko.

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