Era 1976. Laura tinha acabado de completar dois anos e já falava tudo. Papai com 63 anos, um pouco mais do que minha idade hoje, se divertia ao ver que ela repetia tudo o que escutava.
Morávamos em Tremembé e ele estava lá em uma de suas muitas visitas. Papai estava em uma fase de exercícios com caminhadas longas, saía as 4 da madrugada andava até Pindamonhangaba e voltava. Era um estirão grande e ele tirava de letra. Eu com 25 anos não tinha coragem de acompanhar. Com isso tudo ele ainda não dispensava a cervejinha antes do almoço, acompanhado de queijo provolone e Beá. Bebiam e comiam juntos todos os dias de suas férias.
Um desses dias ao chegar da Mecânica para almoçar encontro Laurinha andando pela casa, da sala onde estava papai até a cozinha onde estava Beá, e falando:
- Puta, puta, puutaa.
Batia na cozinha e voltava para a sala:
- Pato, pato, paaaatoo.
Fui falar com Beá para entender o que estava acontecendo, e ela me falou que papai estava se divertindo ensinando palavrão para Laura, e Beá corrigindo. Falei que ia conversar com ele e fui até a sala:
- Porra pai, ela é menina! Não precisa saber falar isso.
Quando escuto atrás de mim:
- Porra, porra, porra.
Era Laura que tinha escutado a conversa. Papai mais do que depressa falou:
- Eu assumo o “puta” mas “porra” foi você que ensinou!
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