terça-feira, 23 de março de 2010

Casca grossa

Foi na copa do mundo de 1994. O Brasil tinha ido para a final e parecia que após 24 anos seria campeão do mundo de novo. Já estava com os filhos todos grandes, Laurinha com 20, Betão com 18 e Daniel e Guilherme com 17. Todos eles estavam muito ansiosos principalmente os meninos, e eu contribui muito com isso, ao descrever a emoção que tive quando fomos tricampeões e eu é que tinha 20 anos.

No dia da final a concentração começou cedo. A tensão estava no ar. Seríamos vitoriosos? Quem seria o herói? Estávamos preparados para ser campeões? E para a derrota? Nem fale que dá azar. Fui até a casa de papai. Achei que ia me acalmar, mas piorou. De um lado um bando de guris que nunca tinha sentido o gosto de ver o Brasil ganhar. De outro, um senhor de 81 anos, se perguntando se ele ainda teria a oportunidade de ver um brasileiro erguer a taça novamente. De preocupado, fiquei super preocupado. Me lembrei de 90 quando ele chorou ao sermos derrotados na final pela França.

Combinamos de ver juntos pois éramos pé quente. Não chamaríamos o Antonio de Arruda, ele devia ser o pé frio, responsável pela porra do Zico ter jogado aquele pênalti pra fora. Acertado os detalhes, fui pra casa. Chegando lá, já escutei um Brasiiiooo. Era o Beto. Quando me viu já foi dizendo que veríamos o jogo juntos, e que queria ver na TV do vovô que era de 40", coisa rara na época. Dez minutos antes chegamos na casa do velho. Ele ficou super contente quando nos viu e disse que não tinha como não ser campeão, mas que a melhor maneira de ser vitorioso era estar preparado para a derrota, o que já causou uma discussão que foi até o apito inicial.

Fiquei 2 horas naquela tensão, vivendo aqueles minutos, um a um, que só quem é fanático por futebol entende. As explosões de alegria nos nossos gols, até aquela errada do italiano quando na disputa de penalts mandou a bola por cima da trave. Éramos campeões! Papai estava vivo para assistir ao tetra e meus filhos para ver um brasileiro levantar a taça. No meio daquela alegria, vi papai e Daniel abraçados, chorando, e disse:
- Que merda é essa? Porque estão chorando e eu rindo?
Papai respondeu de pronto:
- É que você tem a casca grossa. Já a minha está toda trincada e a dele ainda não se formou.
Hoje choro por muito menos. Velho sábio.

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