segunda-feira, 22 de março de 2010

Consolo

Quando me casei com Beá tínhamos uma dúvida. Teríamos filhos? Com 11 anos tive urquite e com 18, na ocasião do exame pré nupcial do meu Irmão, fiquei sabendo que tinha baixo nível de espermatozóide, o que deixava dúvidas se um dia poderia ter filhos. Mas havia uma certeza, que se os tivesse, e um deles fosse homem e o Zé não tivesse nenhum filho homem ainda, ele se chamaria Alberto. Beá teve muita coragem e amor ao aceitar tantas condições, ou confiava no taco dela. Quem vai saber. A fama era que na família tinha parideiras de primeira. Balançou a cueca engravidou, dizia meu sogro.

Papai não sabia do meu acordo com o e nem desconfiava do porquê de eu querer tanto um filho homem. Quis o destino que a Beá engravidasse na lua de mel. Nós pensávamos que não havia necessidade de pílulas, afinal o Dr. Lineo Cordeiro me garantiu que sem umas injeções de não sei o que, não existia o menor risco. A bem da verdade ele não sabia que minha mãe tinha me garantido que eu teria muitos filhos. Ela só não me avisou que em seu sonho eu não tomava as injeções de não sei o que do Dr Lineo. Mas isso é matéria para outra história, de mamãe e não de papai.

Pois bem, morávamos em São Paulo, ultrassom ainda não existia, e o sexo do bebê só se sabia quando o médico saía da sala de parto e falava: é menino ou menina. Até ali tudo era especulação. Papai fazia umas contas e falava que era homem. Mamãe tinha sonhado que era mulher. Beá definiria o nome se fosse mulher. Homem era Alberto, não tinha escolha. Papai e mamãe acertados que viriam para o parto. Eu achando que seria o único filho que teria, uma vez que só tinha explicações do além para aquela gravidez.

Data provável: 12 de Fevereiro. Papai não podia se ausentar do Marinho por muito tempo, e queriam ficar com o primeiro neto o máximo possível, então foi acertado que viriam no dia 9. Mamãe morria de medo de viajar. Em avião não entrava de jeito nenhum. Carro com papai dirigindo também não. Pegaram o trem de Corumbá até Campo Grande e ônibus de lá para São Paulo. Saíram dia 08 e chegariam dia 09. Nesse período não tinha comunicação nenhuma, celular era ficção cientifica. Laurinha resolveu não esperar. Chegou dia 9 de Fevereiro de 1974, esbanjando saúde e já a cara do pai. Papai na estrada. Quando fui a rodoviária para pegá-los o nome já estava meio acertado. Seria Gabriela ou algo assim. Cheguei com cara de recém pai e mamãe olhou para mim e disse.

- Já nasceu! Menino?

- Menina! Linda e perfeita - Falei.

Papai todo feliz, de pronto falou:

- Não fique triste meu filho que no próximo vem homem.

E mamãe já completou:

- Eu prometi que vai se chamar Laura de Vicunha.

A promessa foi cumprida em parte.

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