Já falei de seu Geraldo em outras historias. É o do "mas qua". Aqui no pantanal nós temos a mania de ser muito paternalista e aquelas teorias de "empresa não tem coração" não existe. Não tem como você dispensar um empregado porque ele já está velho e não serve mais. Pode não servir para aquela função em que ele foi bom um dia, mas à medida que a idade vai chegando você vai criando outras e o nego vai se adaptando. Normalmente o praieiro foi um ginete de primeira que com a idade foi sendo encostado. Vai para a praia e lá fica, pois é um serviço leve, de rastilhar a beira da casa, cortar uma lenha para a cozinheira, cuidar dos guachos e por aí afora, o que para quem estava acostumado ao serviço pesado é brincadeira, e às vezes o peão chega aos oitenta anos nesse batente.
Mas seu Geraldo apareceu um dia com pressão muito alta e o médico recomendou que ele ficasse na cidade onde poderia controlar os remédios e ser atendido mais rapidamente em caso de emergência. Saiu da praia de Piratininga e veio para a praia do escritório. Varria os fundos e abria o portão quando alguém buzinava. Esse era o serviço. Tinha uma quitinete bem ajeitada e lá ele morava. Não pagava aluguel, nem água e nem luz. O salário ia todo para o banco onde ele tinha uma poupança e sempre conversava com o gerente. Todo mundo sabia o dia em que ele ia pro Itaú, pois se vestia todo de branco, calça, camisa e chapéu. Nessas conversas sobre aplicações ele resolveu pedir aumento, pois já estava há muito tempo naquela função e nunca tinha recebido nem uma promoção. Perdi uma hora explicando a ele que a promoção era para quem estava aprendendo coisas novas e mudando de função. Ele era porteiro da Ema e não ia mudar sua função e por isso não ia receber aumento nenhum. Tudo isso falado com muito jeito, pois o homem melindrava facilmente, mas ele entendeu e saiu satisfeito da minha sala. Passado uns meses, resolvemos automatizar o portão de serviços da Ema. O velho estava surdo e não escutava o pessoal buzinando. Ou ele não ia limpar o páteo para ficar de prontidão para abrir o portão quando chegava alguém ou fazia o pessoal subir no muro e gritar por ele quando estava varrendo. Instalado o portão eletrônico, demos um controle a ele e o ensinamos a usar e ele o fazia sempre que chegava alguma carga de terceiros. Passado uns dias ele entra na minha sala e pede aumento outra vez e agora com novos argumentos: Ele era operador de portão eletrônico. Quando expliquei que não existia esse cargo ele injuriou de vez. Se existia operador de máquinas e o portão andava sozinho, então era máquina, e ele que comandava, então ele era um operador! Não teve jeito, ou tirava o portão ou ele pedia as contas porque sem aumento de salário ele não iria abrir "aquela porcaria" para mais ninguém.
Foi difícil convencê-lo a arrumar outro emprego antes de pedir as contas. Foi ser guarda noturno na casa de um outro fazendeiro para quem ele já tinha trabalhado e depois de uns dois meses ele voltou ao escritório. Conversou muito comigo, perguntou pelos seus guachos, a "bala doce", "boneca" e a "neguinha" que era uma bezerra branquinha de tudo, "nelor purinha", mas esse era o nome carinhoso que ele chamava uma antiga namorada. Na conversa, eu esperando para ele pedir o emprego de novo e nada, quando resolvi perguntar como ele estava no novo emprego. Reclamou muito principalmente do salário que não chegava nem no mínimo e que descontavam um monte de coisas dele, mas que tinha uma grande vantagem, o portão era eletrônico e ele não tinha que fazer força para abri-lo. Mas se eu quisesse ele poderia voltar, desde que desse um aumento de uns 10% para ele. Falei que até o aceitava de volta, mas pelo mesmo salário. Ele só respondeu:
-Mas quá.
E foi a última vez que vi seu Geraldo e isso já tem mais de 5 anos.
Mas seu Geraldo apareceu um dia com pressão muito alta e o médico recomendou que ele ficasse na cidade onde poderia controlar os remédios e ser atendido mais rapidamente em caso de emergência. Saiu da praia de Piratininga e veio para a praia do escritório. Varria os fundos e abria o portão quando alguém buzinava. Esse era o serviço. Tinha uma quitinete bem ajeitada e lá ele morava. Não pagava aluguel, nem água e nem luz. O salário ia todo para o banco onde ele tinha uma poupança e sempre conversava com o gerente. Todo mundo sabia o dia em que ele ia pro Itaú, pois se vestia todo de branco, calça, camisa e chapéu. Nessas conversas sobre aplicações ele resolveu pedir aumento, pois já estava há muito tempo naquela função e nunca tinha recebido nem uma promoção. Perdi uma hora explicando a ele que a promoção era para quem estava aprendendo coisas novas e mudando de função. Ele era porteiro da Ema e não ia mudar sua função e por isso não ia receber aumento nenhum. Tudo isso falado com muito jeito, pois o homem melindrava facilmente, mas ele entendeu e saiu satisfeito da minha sala. Passado uns meses, resolvemos automatizar o portão de serviços da Ema. O velho estava surdo e não escutava o pessoal buzinando. Ou ele não ia limpar o páteo para ficar de prontidão para abrir o portão quando chegava alguém ou fazia o pessoal subir no muro e gritar por ele quando estava varrendo. Instalado o portão eletrônico, demos um controle a ele e o ensinamos a usar e ele o fazia sempre que chegava alguma carga de terceiros. Passado uns dias ele entra na minha sala e pede aumento outra vez e agora com novos argumentos: Ele era operador de portão eletrônico. Quando expliquei que não existia esse cargo ele injuriou de vez. Se existia operador de máquinas e o portão andava sozinho, então era máquina, e ele que comandava, então ele era um operador! Não teve jeito, ou tirava o portão ou ele pedia as contas porque sem aumento de salário ele não iria abrir "aquela porcaria" para mais ninguém.
Foi difícil convencê-lo a arrumar outro emprego antes de pedir as contas. Foi ser guarda noturno na casa de um outro fazendeiro para quem ele já tinha trabalhado e depois de uns dois meses ele voltou ao escritório. Conversou muito comigo, perguntou pelos seus guachos, a "bala doce", "boneca" e a "neguinha" que era uma bezerra branquinha de tudo, "nelor purinha", mas esse era o nome carinhoso que ele chamava uma antiga namorada. Na conversa, eu esperando para ele pedir o emprego de novo e nada, quando resolvi perguntar como ele estava no novo emprego. Reclamou muito principalmente do salário que não chegava nem no mínimo e que descontavam um monte de coisas dele, mas que tinha uma grande vantagem, o portão era eletrônico e ele não tinha que fazer força para abri-lo. Mas se eu quisesse ele poderia voltar, desde que desse um aumento de uns 10% para ele. Falei que até o aceitava de volta, mas pelo mesmo salário. Ele só respondeu:
-Mas quá.
E foi a última vez que vi seu Geraldo e isso já tem mais de 5 anos.
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