segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

A compra do Baron

O Tony, Antonio Pompeo Martinez de Carvalho, é um dos maiores conhecedores de aviões pequenos que eu conheço. Além de pecuarista, piloto e corretor de aviões, os quais conhece profundamente, é um cara muito espirituoso. Passamos alguns momentos de muita tensão e outros muitos engraçados, pois tudo acontece com ele por perto. Começamos com negócios e acabamos nos tornando bons amigos. Teve um carnaval que ele passou aqui e o esquenta, quando todos do bloco se reúnem para beber e dançar antes do baile, foi na casa de Mena e Cauto. Como ele era cuiabano e não conhecia ninguém ficava perguntando o tempo todo sobre quem eram as pessoas e fazendo observações engraçadas sobre elas. Teve um momento que estávamos com o Cauto, que tem duas filhas maravilhosas, minhas sobrinhas a Elena e a Diana, e nesse dia estavam fantasiadas de melindrosas e mais maravilhosas ainda, quando o percebi olhando para as duas. Pensei que, como ele não sabia que eram filhas de Cauto, viria besteira pela frente, quando antes que ele fizesse qualquer observação, as duas se aproximaram e nos beijaram, a mim e ao Cauto. Quando se afastaram, ele indagou a nós, apontando com o beiço, quem eram as gostosas. Para deixá-lo chateado, respondi olhando para o Cauto e com ele escutando, que eram suas filhas. Ele não perdeu o rebolado e disse:
- Porra cara, quem diria que você seria um reprodutor desse naipe. Se você fosse touro do meu rebanho eu te castrava na primeira oportunidade e ia fazer uma grande merda, hein?
O Cauto que teve que escutar um puto chamar as filhas de gostosas e depois ser chamado de feio, não conseguiu ficar sem dar risadas.

Na época que estávamos comprando o Baron, ele fez com que eu e o Tontonio fossemos até São Paulo para ver um avião que estava no campo de Marte. Ele iria testá-lo, mas achava que tinha encontrado o avião ideal para nós. Para colocar Tontonio dentro do avião foi um parto. Ele falava que já tinha visto piloto de teste, mas passageiro de teste, nunca. Por fim conseguimos embarcar o bicho, meio tipo bode, empurrando pela bunda, mas foi. Ele entrou atrás e eu e o Tony na frente. As portas do Baron ficam do mesmo lado, diferentes do cessna 206, a de trás que é dupla e a da frente sobre as asas, todas do lado do passageiro, ou seja, direito. Elas têm dois estágios, o primeiro fecha e virando a maçaneta totalmente uma haste incorpora a porta à estrutura do avião. Como as duas são do mesmo lado, é fundamental que estejam bem travadas. Eu, como passageiro, não tinha a menor idéia disso. O Tony embarcou o Tontonio, foi para a poltrona esquerda e eu, por último, para o lugar do co-piloto. Esses aviões são homologados para viajar com só um piloto e a poltrona da frente é de passageiro também. Bati a porta e nem sonhava que tinha que virar a maçaneta e o comandante, apesar de bom, dormiu no ponto. O controle de Marte autorizou a decolagem e assim que ele saiu da pista e comandou o recolher do trem, escutamos o estalo seguido de um assovio. A porta abriu em vôo e nesses casos, você não consegue fechá-la de jeito nenhum. Quando o ar escoa pela carenagem, cria uma região de baixa pressão na área da porta e ela tende a se abrir totalmente, mas quando isso começa a acontecer, muda o perfil aerodinâmico da superfície e a porta passa a ser um obstáculo, e o ar faz com que ela tenda a fechar e com isso ela vai pulsando, como uma bandeira ao vento. Tentamos ainda fechá-la em vôo aloitando para tentar abri-la ao máximo e ver se o vento fazia com que ela fechasse, mas não tinha jeito. Nem chegava a bater. Do Tontonio desesperado atrás, só escutávamos o Filhos da Puta, e isso no meio daquele barulhão todo que o vento fazia. Era mais ou menos como você andar em um carro a 140 km por hora com a cabeça para fora do vidro. Tive que unhar aquela porta para ela parar de vibrar e fazermos todo o tour da pista até pousarmos novamente. Assim que o avião tocou o solo e reduziu a velocidade, o Tony conseguiu bater e travar a porta, deu motor e decolou novamente, isso com o Zé gritando que queria descer, que não comprava mais porra nenhuma e outras baixarias mais.

Fizemos um vôo de quinze minutos e foi amor a primeira vista. O ODU parecia zero bala. Era "a máquina" e quando pousamos, e o Tontonio se aliviou, fomos conversar em como comprar. O Tony quis fazer gracinhas ainda dizendo que a porta fazia parte do teste do avião, para verificar se ele era bom mesmo. No solo que fui verificar como era essa trava e vi que tínhamos escapado por pouco. A porta era como um tirante protendido e fazia parte integrante da estrutura. O avião poderia ter se quebrado ao meio e nada nos salvaria. Ficamos uns 10 anos com aquele bichinho e ele nunca nos deixou na mão. Não foi fácil vende-lo, mas isso fica para a próxima.

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