quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Elvira

Eu já tinha marcado esse tema para escrever e depois apagado, mas outro dia, conversando com Bea, ela me convenceu de que Mamãe não se importaria se eu contasse da Elvira neste blog e que deveria fazê-lo pois se quero deixar registrado tudo sobre papai, a Elvira não poderia faltar. Qualquer problema com a mamis, Bea, como mulher, é quem vai resolver. Mas Elvira foi uma paixão de solteiro de papai, pois amor foi só Mamãe mesmo (tenho que amenizar as coisas e como eu que leio as histórias desse blog para ela, os entre parênteses eu pulo).
Não a conheci, mas segundo ele, era a boliviana mais bonita que ele viu na vida. Morava na avenida quase esquina com a Frei Mariano. (Deve ter sido marcante, pois ele me contava as histórias deles e todas as vezes que passava em frente de onde tinha sido a sua casa ele me falava “aqui que morava a...” e antes dele terminar eu completava "Elvira"). A casa era dessas construções seqüenciais. A porta dava na rua, não tinha nenhum recuo, e começava com a sala, cozinha com uma área aberta e banheiro, aí o quarto dos pais da Elvira e por último o quarto da diva. Na área aberta, junto à sala, ficava a janela e a porta da cozinha, a porta janela do banheiro e a porta e janela do quarto dos pais da moça. Ele contava, como prova de sua coragem, que ele vivia dormindo com a Elvira em seu quarto, mesmo tendo que atravessar o quarto dos pais primeiro. Pela janela ele sondava se os dois estavam dormindo, tirava os sapatos e entrava na ponta dos pés. Ela na frente e ele atrás se borrando todo. Teve a vez que ele pisou no gato e o velho acordou. Ele deitou no chão e ficou escutando a conversa dela com o pai, que reclamou do avançado da hora e dela estar com aquele playboy gordo que não queria nada sério com ela. Com o playboy ele não achou ruim, mas contou que quase xingou o velho pelo gordo. Teve que ir de arrasto pelo chão até o quarto dela. De outra feita, ele perdeu a hora e quando acordou era dia claro. Teve que sair na maior cara dura como se tivesse acabado de entrar, dizendo que veio para arrumar a porta do armário do quarto dela, dando até logo e dizendo que precisava de uma chave de fenda maior, enquanto mostrava a única que ele encontrou no quarto dela e era daquelas de apertar óculos. Mas era tão impossível que ele tivesse dormido ali que todos acreditaram e até serviram um cafezinho a ele.
Quando perguntei a ele onde estava atualmente a Elvira, ele me contou como acabou o romance. Estavam passeando a noite de carro e viram que tinha visitas na casa dela. Ele não parava esperando as visitas irem, pois a idéia era ele dormir com ela e as visitas não saiam porque estavam esperando ela chegar. Já no avançado da hora ele resolveu deixá-la na casa dela e foi para a sua dormir. No dia seguinte é que ficou sabendo que a visita era um capitão do exército que era apaixonado por ela e a pediu em casamento. Ela deu o cheque mate nele dizendo que se ele não assumisse o namoro e ficassem noivos, ela ia casar com o capitão. Na primeira vez que ele me contou essa história, eu empolgado perguntei:
- E ai pai, o que o senhor fez?
Ele deu uma risada e respondeu:
- Sua mãe chama Elvira? Deixei-a casar com o capitão e só a vi mais duas vezes depois do noivado. No começo ainda tentei umas investidas, mas na terceira vez ela me cortou definitivamente da vida dela. E o pior é que deve ter feito alguma macumba para mim, pois eu não conseguia esquecê-la.
Isso aconteceu quando ele tinha 26 anos e ele ficou meio baleado até os 33 quando apareceu a Julieta e quebrou o feitiço da Elvira. (Mas segundo ele, não foi fácil!)

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