segunda-feira, 30 de julho de 2012

A Senha

Outro dia postei sobre as invenções simples do passado e sobre como quem viveu antes delas é que dá a importância merecida. São coisas simples que não entendemos como foi que demoraram tanto tempo para serem descobertas. A campainha, por exemplo. Antigamente, eram aquelas peças que te ajudavam a bater na porta para não machucar o nó dos dedos, e nas casas com recuo e grades na frente, como a de papai, tinha que ser na palma. A campainha já foi um grande avanço. Logo no seu início, no fim dos anos 50, lembro que, na saída do matinê, ia apertando a de todas as casas e corria. Grande pentelhação. Um dos primeiros interfones instalados em Corumbá foi na casa de meu irmão. Daqueles que você atendia e era um chiado só. Só depois, muito depois, vieram os com câmera de vídeo. Mas fui apresentado a esse comum pelo meu irmão. Todo orgulhoso, apertou a campainha e a empregada perguntou lá de dentro, como treinada:
– Quem é?
Ele olhou sorridente para mim e respondeu:

– José Antônio.
– Quem?
– JOSÉ ANTÔNIO – Já meio chateado e num tom alguns decibéis mais alto.
Quando veio o "QUEIIIM?" de novo, ele já perdeu as estribeiras e falou:
– JOSÉ ANTÔNIO, PORRA.
Aí, acionaram o comando à distância e abriram o portão.
Daí pra frente, qualquer um que apertasse aquele botãozinho e falasse "qualquermerda, PORRA" – a porta se abria. Virou senha.
Mas em uma pequena coisa dá para imaginar como foi a evolução. Hoje uma casa sem porteiro eletrônico é algo impensável. Tá certo que eu reformei as casas de tia Dirce e me esqueci da campainha. Estou procurando um batedor de ferro para instalar lá. Vai ficar por conta de coisas de antigamente. A casa tem mais de cem anos e vai ficar compatível. Vou ver se acho aquele punho fechado de ferro fundido que articulava e batia em outra peça de ferro fixa na porta. Se não achar, vou projetar uma. Vai ficar muito chique. Em vez de DIM DOM, vai ser o antigo TOC TOC. Se quiser ver quem é antes de abrir, olho mágico, que foi outra grande invenção. Vai ficar muito legal e "RETRÔ", que é nome novo para antiga burrice.

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