Nós
temos muitas expressões e palavras regionais, umas vindo do castelhano devido
ao fato de estarmos na fronteira com a Bolívia, e outras de difícil definição
da sua origem. "Vôte", para algo muito ruim, e "vixe", para
algo inacreditável, são de origem espanhola e motivo de muita gozação quando
usadas fora daqui. Sempre ouvi e falei que coisa muito antiga era da época do
"Nhogonça", sem nem desconfiar do que se tratava. Outro dia encontrei
a dona Neta, uma senhora por demais simpática, cliente da nossa Casa de Carne
da Delamare, e fui elogiar a sua disposição. Quando, indiscretamente (acho que
é uma das minhas características), perguntei a sua idade, ela me falou que
passava dos 80. Vi que a falta de precisão era para ocultar parte da verdade. Para
ser gentil – e realmente ele é muito conservada – dei o famoso "não
acredito!". Ela, muito espirituosa, me declamou uns versos, que fiz
questão de tomar nota, e que transcrevo aqui:
O tempo passa depressa
Sem a gente persentí
Quando assusta já tá véio
Sem enxergá, nem ouví
Tropicando a cada passo
Num perigo de caí
Aí chega a veíce
E a gente começa a mentí.
– Muito legal, dona Neta. Não conhecia. Quem é o poeta?
– Nhogonça.
Na hora, percebi que Nhogonça era a abreviação de Senhor Gonçalves, alguém muito velho. Ela não soube me dizer quem era com exatidão, mas falou que era ligado ao pessoal dos Barros. Saí atrás e quem me esclareceu foi o Emilio de Barros. Ele era filho de Nhonho Fancho, apelido de Francisco Leite de Barros e Nhanha Antônia, Ana Antonia de Arruda Leite, que vêm a ser os bisavós do meu sogro, Antonio Pedro de Barros. O interessante é que o Nho Gonça tinha uma irmã, Custodia, e desconfiam que era ela a escritora e usava o apelido do irmão como pseudônimo.
Quem diria que eu descobriria um escritor desconhecido, da época do Nhogonça.
Mas essa foi fácil.
Tadeu, Nho Gonça era irmão caçula de Vovó Chechê, esposa do Velho Nheco. Por ser meio, aliás totalmente, "tumbá" a Nhá Dita, sua irmã mais velha e solteirona criava versinhos para que ele desenvolvesse suas obrigações. Dessa forma são inumeros versos repetidos e transmitidos na família. Existem versos para escovar dente, para ir no banheiro e assim por diante.
ResponderExcluirParabéns pelo seu blog!
Grande abraço
Luiz Otavio Carneiro