segunda-feira, 6 de agosto de 2012

A lei e a lógica.


Lógica devia ser uma coisa de lei, obrigatória. Fora isso, de acordo com o grau de distorção, viria a classificação, de contravenção a crime de primeiro grau, ou mesmo hediondo. Proibiram o comércio de drogas e tem lógica. O drogado põe em risco a vida dos outros. Lutaram para proibir o cigarro e o que conseguiram foi sobre o fumante passivo, ou seja, faça o que quiser com a sua saúde, desde que não prejudique a do próximo. Tem lógica.
Já o cinto de segurança, eu não entendo. Como posso prejudicar alguém se eu não estiver usando o meu? Já tinha essa cisma e, para completar, outro dia estava parado no sinaleiro quando encostou um guarda ao meu lado, de motocicleta, e me mandou estacionar. Sacou seu talão de multas e começou a fazer uma. Quando perguntei o motivo, ele respondeu, sem nem me olhar:
– Dirigir sem cinto de segurança.
Não consegui ficar quieto, e falei:
– Mas, companheiro, cadê o seu?
Aí ele resolveu me olhar, e perguntou se eu queria gozar com ele. Tive até vontade de responder que foi ele quem começou, mas sou respeitador da lei e ele, ali, era um representante dela. Mas respondi:
– Claro que não, seu guarda, mas analise a situação em que nós dois nos encontramos. Estou dentro de uma Pajero com Air Bag em tudo quanto é lado, célula de deformação progressiva para absorção de impacto frontal, barra de segurança nas portas para impacto lateral, protetor de cabeça para prevenir choques pela traseira, vidro laminado anti estilhaço e o que mais o senhor pensar que existe para me proteger. Já o senhor está aí em seu magnífico cavalo mecânico, e o único ítem de proteção é esse seu capacete de plástico que, se descuidar, é made em China. Não acha que alguma coisa está errada?
Por incrível que pareça, ele parou de fazer a multa e olhou para dentro do capacete, procurando sua origem. Devia ser chinês mesmo, pois eu não imaginava que seria tão convincente assim. Fiquei pasmo quando ele desistiu da multa e até em dúvida se ele procedeu corretamente. A lei de um lado e a lógica de outro. Complicado, né? Depois disso, acho que deveria ser proibida a propaganda de moto, que nem do cigarro. Quer usar, use, quer se matar em troca de um arzinho fresco na cara, se mate – agora, tem que ser consciente. As propagandas deviam ser do tipo:
"Você sabia que o corpo humano tem 208 ossos, e que numa queda de sua magnífica 125 você pode quebrá-los?"
"Você sabia que sua caixa craniana tem a mesma resistência de um coco maduro da baía, e o seu capacete não vai protegê-lo se bater na quina de um meio-fio, e seu cérebro vai se espalhar pelo asfalto?"
"Você sabia que o número de acidentes fatais com motos é maior do que o com automóveis, mesmo sendo o número deste último dez vezes maior que o do primeiro?"
"Você sabia que, por mais cuidadoso que você seja, você está dando exemplos para seu filho, que vai querer uma moto também e não será tão cauteloso, tendo vinte anos a menos do que você?"
Mas sou coerente, ou lógico: sou contra proibir a venda de motos, uma vez que a pessoa está colocando apenas o que é dela em risco.
Agora, cinto de segurança... apesar de eu usar constantemente, obrigar o sujeito a usar isso, para mim, é violação da liberdade individual.
Já discuti com muita gente entendida e já escutei, como principal argumento, o quanto o governo gasta com acidentes de carros. Se formos por esse lado, deveria ter multa para quem andar sem agasalho em dia de frio. O veado vai pegar uma gripe, vai ficar sem trabalhar, vai ocupar fila no posto de saúde, etc, etc. Para multa do sem cinto, tinha que ter a do sem casaco também. E olha que a gama de coisas que viria junto com essas seria enorme.
É fácil?

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