quinta-feira, 7 de abril de 2011

Julinho

Julinho é como eu tratava carinhosamente o meu tio Julio, irmão caçula de Mamãe. Era um cara de muitas histórias e como morou uns dois anos em casa, isso quando eu tinha 10, 11 anos e ele uns 25, ficamos muito amigos. Foi vereador e eu ia a todos os seus comícios na época da disputa da eleição.

Ele subia no palanque, ficava falando dos planos que tinha para Corumbá, que a vereancia seria o primeiro passo para a grande caminhada, e não dizia pra onde. Finalizava sempre, discursando com toda a ênfase, que era um absurdo as donas de casa, sem dinheiro, não terem ferro elétrico, e prometia um para todas. Acho que o Collor com os pés descalços e descamisados copiou dele as mulheres sem ferro. Na época, não tínhamos televisão, geladeira e ferro elétrico eram coisas de rico. Corumbá, quente desse jeito, não devia ser fácil para as donas de casa fazerem carvão para passar roupa. Ele descobriu que o ferro elétrico era o maior objeto de desejo dos pobres e sua campanha foi baseada nisso. Como ele prometia dar ferro elétrico para todas as senhoras que votassem nele, ele queria o voto feminino, isso o fez ficar conhecido como o homem do ferro elétrico. Como ele já era famoso por outros dotes, o apelido ficou dúbio. Contam as más línguas que quando uma lavadeira perguntava a outra em quem ela ia votar, se a resposta fosse "no homem do ferro elétrico" e a perguntadora já fosse velha conhecida, completava sempre com um "e enorme". Não sei por quais de seus atributos, mas foi eleito e o seu último discurso, antes das eleições, foi inesquecível.

Tomou um trago antes para limpar a garganta da poeira e a alma do medo e exagerou na dose. Era no Porto Geral de Corumbá, zona de baixa renda. Ele ficou sabendo que seria muito pouco votado naquele bairro, pois tinha uns desafetos que espalharam por lá que ele era cheio da nota e essa história de governar pra pobre era besteira, além do que ele era candidato a vereador e não a governador. Subiu no palanque e soltou o verbo. Foi se empolgando, prometendo lutar por todos do Porto, ferro para a mulherada toda e foi no meio do discurso que ele soltou a pérola que foi mais ou menos assim:

- Vamos minha gente, vamos todos para governar comigo, ou como preferem meus inimigos, vamos veranear juntos. Vai começar comigo o fim das injustiças sociais, vai acabar essa história de rico dormir em cama de colchão mole e o pobre ir para cama de pau duro. Quando o assessor quis chamar a atenção para o duplo sentido, já era tarde demais. O vereador do ferro elétrico... e grande, passou a ser também o vereador do pau duro. Não sei por quais dos seus atributos, mas foi eleito e pelo voto feminino.

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