segunda-feira, 25 de abril de 2011

Nicolau Jorge Netto


Não lembro quando conheci o Nicolau Jorge Neto, talvez no arquidiocesano, no segundo ou terceiro científico, há 45 anos. Lembro-me bem de quando estudamos juntos para o vestibular no Anglo Latino. Era ele e o Olavo os meus companheiros de passar a noite sobre os livros. Entramos juntos na faculdade e então nos tornamos grandes amigos. Dividíamos a condução e cada dia era com o carro de um que íamos à escola. A Mauá ficava em São Caetano e era quase uma viagem a ida até lá. Passávamos o dia todo na faculdade e almoçávamos ou no restaurante da escola ou num barzinho perto que se chamava "O Rancho". Éramos eu, ele, a Zuzu e o Roberto. Era a turma da faculdade e acabamos ficando bons amigos. Perdi totalmente o contato com todos eles, mas me lembro muito bem do Nicolau, era um cara excepcional. Nunca reclamava de nada, tudo estava bom e se algo errado acontecia, ou a culpa era dele ou tinha motivos "superiores" que justificava o ocorrido.


Um dos lances que não esqueci nunca, foi quando ele ganhou um presente do pai, não sei se era um relógio ou uma caneta, mas daquelas coisas chiques no último. Vivia se gabando e explicando que foi presente por ter entrado na faculdade. Ele era o número 7094 na escola, onde o 7 era o número da turma e o 094 a classificação no vestibular. Não sei como, mas um dia sumiu sua caneta (relógio). Como todos conheciam a história, foi uma busca digna de FBI. Loteamos as áreas com um responsável por cada lugar, fizemos ele recompor todos os passos do dia para se lembrar quando foi a última vez que ele tinha visto o objeto, e já íamos para mais de hora procurando, a Zuzu já querendo chorar, quando ele falou:


- Pessoal, não tem jeito. Agradeço a todos, mas isso tinha endereço certo.


Quando achamos que ele ia culpar alguém e dizer que roubaram ele completou:


- Quem achou deve estar precisando muito mais do que eu e fará um melhor uso. Não vou deixar meu pai saber até me formar, vou conseguir economizar e comprar outro igualzinho.


Na hora não demos muita bola para aquilo, mas algum tempo depois fomos raciocinar sobre sua atitude. Empenho para recuperar; motivação para fazer os companheiros ajudarem na busca, resignação para aceitar o que não tinha jeito, consolação pensando em outro mais necessitado e novo objetivo, comprar outra igual para não chatear o pai. O cara era "o cara".


Teve um feriado de semana santa em que ele me convidou para passar com a família dele. Nós dois morávamos longe de São Paulo, mas Martinópolis em comparação com Corumbá era "bem ali". Foi uma das semanas mais agradáveis de meu tempo de escola. Estudávamos muito e merecíamos umas férias, mas aquela semana suplantou todas as minhas expectativas. A cidade era pequena, uns 30.000 habitantes e ele conhecia quase todos, principalmente as mulheres e, sem exceção, as solteiras. A casa era construída em um terreno e no lote ao lado, ficava a piscina e a churrasqueira. Nessa semana que passei lá, nesse lugar teve a maior concentração de mulher bonita por metro quadrado. Todas da cidade iam para lá e se revezavam. Saia um grupo entrava outro. A mãe dele, super simpática, infelizmente esqueci seu nome, só me lembro que começava com Z, quando ia levar suco para a gente ligava do telefone da casa para o da piscina avisando que ela estava chegando. Não queria ter surpresas e tão pouco surpreender-nos. Hoje eu não tenho duvidas que esses dias estão na relação dos melhores da minha vida de solteiro.


Quando fomos para o terceiro ano nos separamos, ele foi para a engenharia elétrica e eu para a Mecânica. Brincávamos muito dizendo que iríamos fazer uma sociedade depois de formados. Iríamos criar "cavalos vapor" para pastar em "campos magnéticos". Muitos anos depois, eu escutei isso como piada e ninguém acredita que nós que a inventamos. Também, não existe patente de piadas.


Mas terminado o curso, ele voltou para Martinopolis e fui reencontrá-lo 25 anos depois, aqui em Corumbá. Ele era um alto executivo da Cesp. Depois disso não fiquei mais sabendo do Nicolau, mas agora, depois dessas lembranças, bateu saudades e vou procurá-lo. Se eu achar, faço um novo Post.

3 comentários:

  1. escreva para njnetto@yahoo.com.br

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  2. Caso encontre-o mande o email dele para este email: lou.ferreira@hotmail.com
    Quando ele morou em Marília e trabalhou na Telesp, e depois mudou-se para Bauru e Campinas, foi padrinho de minha filha. E depois perdemos o contato com ele.
    Agradeço

    Lu

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  3. Sinto informá-los que o Nicolau faleceu ontem e foi sepultado hoje em Martinópolis. Vinha lutando contra o cancer. (14/11/2019)

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