Na esquina de casa tinha um boteco, o Bar de Seu Ermínio. Não lembro de tudo que vendia lá, mas tinha um picolé de coco, que como se diz hoje, era de chupar de joelhos, melhor, comer de joelhos. Tinha três formatos, o cilíndrico, o retangular quase quadrado e de ponta quadrada e o retangular de ponta arredondada. Fazíamos estudos para ver qual era o maior. Eu com 6 anos e o Tontonio com 9, não tinha balanças para pesos tão pequenos na época, e não tínhamos coragem de investir em três maravilhas daquelas e derreter para ver qual era maior. De matemática, só conhecíamos a aritmética e não era suficiente para cálculos tão difíceis. Quando aprendi geometria e as fórmulas para calculo de volumes, lembrei na hora de seu Ermínio. Nossas dúvidas tinham razão de ser, pois todo lucro obtido com a venda de revistas usadas e de suco de limão conseguido na porta de casa era revertido em compras desses picolés. Ele era de coco queimado e como era congelado com o palito para cima, como todos alias, o coco na mistura ia subindo e ficava no palito. O Tontonio, que não era fácil, chupava o dele rapidinho e ficava enchendo minhas pelotas para eu dar o finzinho para ele, exatamente onde estava a melhor parte. Vinha com uma cantada das mais bestas, que ele era mais velho e ia morrer primeiro e eu ia ficar com remorso de não ter dado aquele finzinho para ele. Sempre acabava em mais uma mordida e lá se ia meu finzinho com todo o coco. Depois da terceira ou quarta vez, comecei a comer os palitos pelo lado contrário e a primeira coisa que ia era o coco, mas não era a mesma coisa, pois a tristeza começava mais cedo. O bom mesmo era deixar o finzinho para o fim.
Pode parecer que isso são coisas sem importância e eu achava isso também, até o dia, ele já com 60 anos e eu com 57, começamos a caminhar juntos. Não fazíamos exercício nenhum e resolvemos começar pelo mínimo. Andar por uma hora, não falar de serviço, só besteiras, piadas, e lembrar dos velhos tempos. Cada dia por um lugar diferente da nossa Corumbá, para aumentar a segurança e não ficar monótono. Pegava meu carro, ia até o posto 10, e escolhíamos o trajeto. Às vezes era no Porto, as margens do Rio Paraguai, outras na avenida Gal Rondon, onde estava a nossa casa de infância e o bar de seu Ermínio, que hoje nos pertence e tinha o escritório da Marinho Engenharia. Numa das primeiras vezes que fizemos esse trajeto, as lembranças foram do seu Erminio e dos picolés de coco. Especulamos se ele estaria vivo e se tivesse onde será que morava, pois antes era vizinho do boteco. Numa segunda andada no mesmo local, nós do lado contrário da rua de sua casa, o Tontonio o viu primeiro e todo animado, gritou:
-E aí Seu Erminio, tudo bem?
Ele firma a vista fechando um pouco os olhos e grita de lá.
-Olha os irmãos Marinhos ai.
Na hora aquilo me deu uma tristeza muito grande, pois pela sua resposta achei que ele estava nos confundindo com nossos ascendentes, o Tontonio é muito parecido com o Tio Patrão com sua cabeleira branca e eu com papai ou o tio Alcides, como já falei em outras historias, o galã da família, e estávamos velhos pra cacete. Mas logo veio o complemento:
-Vão comprar picolé de coco?
Acabou a caminhada, mesmo tendo por costume não parar por nada, mas aquela lembrança merecia uma interrompida. Fomos até ele e foi uma festa. O velho devia ter mais de 80 anos e não mudou nada. Parecíamos todos com a mesma idade. Ele estava aposentado, mas só andava de bicicleta. Falou que nós não tínhamos mudado nada e lembrou que todas as vezes que comprávamos os picolés de coco ficávamos medindo para saber qual tinha mais, o cilíndrico, o retangular ou o quadrado. Podem pensar que é exagero, mas nunca mais tomei outro sorvete igual àquele, e olhe que gosto de picolé.
Pode parecer que isso são coisas sem importância e eu achava isso também, até o dia, ele já com 60 anos e eu com 57, começamos a caminhar juntos. Não fazíamos exercício nenhum e resolvemos começar pelo mínimo. Andar por uma hora, não falar de serviço, só besteiras, piadas, e lembrar dos velhos tempos. Cada dia por um lugar diferente da nossa Corumbá, para aumentar a segurança e não ficar monótono. Pegava meu carro, ia até o posto 10, e escolhíamos o trajeto. Às vezes era no Porto, as margens do Rio Paraguai, outras na avenida Gal Rondon, onde estava a nossa casa de infância e o bar de seu Ermínio, que hoje nos pertence e tinha o escritório da Marinho Engenharia. Numa das primeiras vezes que fizemos esse trajeto, as lembranças foram do seu Erminio e dos picolés de coco. Especulamos se ele estaria vivo e se tivesse onde será que morava, pois antes era vizinho do boteco. Numa segunda andada no mesmo local, nós do lado contrário da rua de sua casa, o Tontonio o viu primeiro e todo animado, gritou:
-E aí Seu Erminio, tudo bem?
Ele firma a vista fechando um pouco os olhos e grita de lá.
-Olha os irmãos Marinhos ai.
Na hora aquilo me deu uma tristeza muito grande, pois pela sua resposta achei que ele estava nos confundindo com nossos ascendentes, o Tontonio é muito parecido com o Tio Patrão com sua cabeleira branca e eu com papai ou o tio Alcides, como já falei em outras historias, o galã da família, e estávamos velhos pra cacete. Mas logo veio o complemento:
-Vão comprar picolé de coco?
Acabou a caminhada, mesmo tendo por costume não parar por nada, mas aquela lembrança merecia uma interrompida. Fomos até ele e foi uma festa. O velho devia ter mais de 80 anos e não mudou nada. Parecíamos todos com a mesma idade. Ele estava aposentado, mas só andava de bicicleta. Falou que nós não tínhamos mudado nada e lembrou que todas as vezes que comprávamos os picolés de coco ficávamos medindo para saber qual tinha mais, o cilíndrico, o retangular ou o quadrado. Podem pensar que é exagero, mas nunca mais tomei outro sorvete igual àquele, e olhe que gosto de picolé.
Nenhum comentário:
Postar um comentário