segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Falo

Papai era uma cara que gostava de estudar as palavras, discutir sobre sua origem e variações desde muito cedo. Já contei aqui quando levei uma puteada dele por falar esculhambação e bagulho na frente de mamãe e isso quando eu tinha uns 12 anos e tudo por causa da origem das palavras, que eu nem desconfiava qual era.
Tinha uma manias que nunca entendi o porque. Ninguém podia falar "porra" na frente dele que ele falava: "Porra exclamou o Barão, e a Baronesa levemente ruborizada...", e ele parava, quando todos, sem entender, perguntavam: "e daí", e ele continuava: "...e daí acenderam-se as luzes e o baleiro começou a gritar - balas, bom bom, chocolate, quem vai querer?", e continuavam sem entender o porque de tudo aquilo, mas a repetição é que fazia a coisa ficar engraçada. Até hoje quando alguém fala porra na frente de outro já vem a historinha de seu Alberto.
Quando ele começou a escrever, o Rubens de Castro, Baiano para os íntimos, era seu crítico, e um dia começaram a discutir sobre quem sabia mais português, e um começou a perguntar o significado das palavras para o outro. Estava empatada a disputa quando papai falou:
-Baiano, vou falar uma palavra e se você souber o significado dela eu tiro o meu chapéu e declaro você o vencedor.
-Fala português - respondeu o Baiano.
-Falo - falou papai.
-Então fala. - insistiu o Baiano.
-Já falei- insistiu papai.
-Fala de novo, porra, que eu não escutei.
-Falo - Repetiu papai.
E o Baiano olhando pra cara dele esperando.
-Falo é a palavra e não é do verbo falar.
Baiano pensou, pensou, quis ganhar tempo e disse:
-eu sei..., mas não vou falar.
Papai, grande gozador, esperava por isso e disse:
-Sabe, é o cacete.
-Sei sim.
-Agora você sabe, eu já falei.
O Baiano saiu meio sem entender e no dia seguinte, provavelmente depois de consultar o dicionário, que caiu a ficha dele. Falo é o cacete.

Esse Alberto...

Nenhum comentário:

Postar um comentário