quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Meus sogros

Dr. Pedrinho, meu sogro, era um cara fora de série, médico, gostava de ler e conhecia tudo. Todas as vezes que eu discutia com Bea, era com ele que tirávamos as dúvidas. De cinema ele sabia o nome dos artistas e de todos os filmes. Era muito espirituoso e não dispensava um bom trocadilho. Não o conhecia ainda e estava na paquera com Beá quando fomos a um baile no Corumbaense. Estávamos no corredor da entrada, sentados em uns sofás que tinham ali (impressionante pensar que tinham sofás naquele lugar e limpos, e brancos, bons tempos, hoje estariam todos, no mínimo, vomitados) e num papo muito bom, quando ele chegou e falou:
-E aí, vamos embora?
Enquanto eu me levantava e dava "boa noite", Bea falou:
-Mas já?
Ele respondeu, de pronto:
-Não, vamos dormir aqui. Aqueles senhores ali são os músicos. -falou apontando para um grupo de rapazes que estavam saindo e nunca tinham tocado nada na vida. O baile tinha acabado e nós não tínhamos percebido.
Mas também era brabo e não gostava de ser gozado, mas sua educação não permitia que ele xingasse ou coisa assim. Amarrava a cara e pronto. Logo que mudamos para Taubaté, ele com D.Odilza foram nos visitar, estávamos com dois para três anos de casados e tínhamos acabado de comprar a nossa primeira casa própria. Ele reuniu a todos na sala para tirar fotos estreando a máquina nova e como queria sair nela, colocou-a no temporizador. Como ele não sabia regular, saiu o chão na primeira, ele de costas na segunda, tentando se sentar na terceira e isso com todo mundo dando risadas. A cada tentativa frustrada, aumentava sua raiva e despesa, pois antigamente era tudo papel, nem se pensava em foto digital. Aí eu resolvi fotografá-lo regulando a máquina e registrar para a eternidade esse seu momento de aborrecimento. (Espero que o Beto ache essa foto.)
Íamos ao Rio de Janeiro e ele nos levava no Barril 500 ou no Castelinho para tomar um chopinho. Quando eu falava em dividir a conta ele vinha com seu provérbio, que hoje sou eu quem uso, que é: "Em rinha que tem galo, frango não entra".
Minha sogra também é fora de serie, e não me lembro de ter escutado um não seu a um pedido de Beá ou de meus filhos. Quando morávamos em Taubaté, no mínimo eles, às vezes com Bea, passavam todas as férias de julho e de final de ano aqui, e não eram fáceis. Ela fazia um picolé de bocaiúva e colocava num saquinhos que parecia uma camisinha e eles ficavam o dia inteiro com aquela coisa na boca, horrível, e como era feito por ela ou por sua ordem não tinha como tirar aquilo deles. Com o tempo todo mundo entrou no sorvetinho de camisinha dela.
Logo que mudamos para Corumbá, como a casa que compramos tinha que passar por uma reforma, fomos morar com eles. O programa principal era ver filmes em casa, pois o videocassete estava recém lançado. Quem mais se arrumava para a cessão de cinema era a Odilza, que colocava até pijama e, normalmente, dormia antes que o mesmo começasse. Mas teve um lance muito engraçado , contado pela Mena, minha cunhada.
Quando ela morava com eles, chegando meio tarde em casa e vendo a luz da sala acesa, foi até lá e viu a cena, a irmã mais velha da Odilza, a Jacy, foi visitá-la com o marido Israel e estavam os quatro dormindo na sala. Quando a Mena a chamou e ela vendo a Jacy, acordou assustada e falou: "Vamos Pedrinho que já esta tarde e não é mais hora de visitar ninguém". Quando percebeu que ela era a anfitriã e não a visitante já era tarde e a sorte, foi que todos recém acordados e ainda com muito sono, não estavam em condições de interpretar suas palavras.
Ele foi um sogrão e ela é uma sogrona.

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