segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O inesperado


Inesperado é aquilo que acontece de uma maneira diferente da lógica. Você está preparado para uma coisa e vem outra totalmente diferente, dando uns puta sustos na gente. Ao longo dos meus 62 anos, tive vários inesperados na minha vida. São as surpresas, nem todas agradáveis. As mais marcantes, vou deixar registradas aqui.
Teve a vez em que eu estava saindo de casa com o carro e parei em frente ao portão para fechá-lo; é um portão eletrônico, do tipo que abre e fecha deslizando para cima enquanto gira em torno de um eixo horizontal. Ele, aberto, fica em uma posição horizontal e invade a calçada, mas em uma altura que não atrapalha quem passa. Para completar a cena, tinha também um cachorro rottweiler, o Paco, super ensinado, mas brabo pra caramba. Ele não saía sozinho de casa por nada, mesmo se todas as portas estivessem escancaradas, e não mexia com ninguém que passasse na rua, desde que a pessoa não encostasse na grade: pois aí ele ia querer jantar o cara. Quando acionei o controle para fechar o portão, não percebi que uma senhora de idade avançada entrou na área de basculação, e à medida em que o portão foi fechando, foi também recolhendo a velha para dentro de casa, pois senão pegaria em sua cabeça. O cuidado, que sempre recomendei para todos, eu não tive. Na hora gelei, quase me caguei todo, eu e a velha: pois o Paco estava sentado na entrada da garagem e pensei que fosse sair direto na garganta dela. No nervoso, não conseguia inverter a porra do comando e o portão acabou se fechando totalmente. O Paco e a velha ficaram se olhando sem que ninguém fizesse o menor movimento, até que consegui abrir o portão e descer meio correndo para acudir a senhora, agradecendo a todos os santos pelo inesperado fato do Paco ter ficado quieto. 
Esse foi o primeiro. O segundo veio como resposta ao meu pedido de mil desculpas para a velhinha. Ela olhou bem para mim, no fundo dos meus olhos, e quando achei que fosse desmaiar ou se cagar toda, ela me falou:
– Meu filho, você não quer ir para Puta que Pariu, não?
Apesar do choque, a porra da velha me parecia tão fina, o nervoso misturou com o alívio e, querendo ser gentil, respondi, sem perceber a dubiedade da resposta:
– Vou sim, mas queria dar uma carona para a senhora.
Acho que ela não entendeu meu gesto, pois respondeu que era para eu ir sozinho.
Teve a vez que fui com o Tontonio, meu irmão, no seu exame Pré-nupcial. Antigamente tinha isso, antes do cara juntar os trapos com uma mulher, passava por uma revisão igual a dessas que se faz em carro usado antes da compra. Estávamos retornando ao médico com todos os exames feitos, e tínhamos violado os envelopes e visto os exames endereçados ao Dr. Miguel Zuppp. Ele estava super preocupado, pois seu espermograma deu uma contagem baixa e o classificou como sub-fértil pelos padrões de não sei quem. Para acalmá-lo, eu ficava brincando que ele tinha ficado de segunda época no exame de porra, mas passado direto no de merda e de mijo. Ele não achou graça nenhuma, já estava achando que não ia se casar mais, quando o médico falou:
– Fique tranquilo que isso não é nada. Deve ser alguma infecção besta que você tem na próstata e, tratando, fica tudo normal.
O inesperado veio quando ele completou:
– Se você tivesse tido uma urquite, que é a cachumba que desce para os testículos, quando jovem, aí sim, poderíamos ficar bem preocupados.
Foi como um chute no saco, só que no meu – pois quem tinha tido a urquite quando criança tinha sido eu.
As outras saem no volume 2.

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