segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Burrices.


Com o passar dos anos você vai acumulando um repertório de burrices ouvidas; são tantas, que resolvi catalogá-las. Como o interessante é o fato, vou citar somente o cargo da pessoa que a falou, pois isso faz parte do cenário, mas não vou dar nomes aos bois – ou melhor, aos burros. 
Este era, simplesmente, o prefeito de Corumbá algumas décadas atrás e estava em reunião com seu secretariado, quando o de planejamento pediu a palavra e falou:
– Sr. prefeito, para fazermos um planejamento bem feito, temos que começar com um levantamento completo da cidade.
– Como vai fazer levantamento completo? Não precisa ser engenheiro para saber que quando se levanta em algum lugar, tem que se baixar em outro para conseguir a terra. Ou vai trazer tudo de fora?
Conta-se que ninguém riu nem retrucou, pois o homem era brabo e não aceitava que o contradissessem.
Do mesmo sujeito, ainda prefeito, contam que, em uma roda, alguém comentou que quando acabasse o petróleo o mundo ia parar. Ele deu a explicação mais lógica que podia:
– Lógico, todo mundo sabe que a terra gira em torno de um eixo, e esse material imaginário de que ele é feito, sem lubrificação, ingripa... e aí, ba-báu. Para de girar de repente e vai tudo pro saco.
Essa eu presenciei. Houve um incêndio na cidade e não tínhamos corpo de bombeiro. Para completar, era em uma livraria, com material altamente combustível. Incêndio em cidade pequena é que nem enforcamento de antigamente. Não se sabe por quê, mas todo mundo corre para assistir. O mais avançado recurso era o caminhão pipa do serviço de abastecimento de água da cidade. Todos assistindo a dança das chamas e aguardando o salvamento, os mais antigos fazendo uma corrente humana para não deixar as crianças se aproximarem do fogo, quando chegou o caminhão. Do lado do motorista, o próprio presidente da companhia, que desceu já dando ordens. Mandou um ajudante subir no telhado pelo muro, outro ficar no muro no meio do caminho, para passar a mangueira. Quando estava tudo no jeito, a ponta da mangueira uns seis metros acima do nível do tanque, ele foi e abriu a válvula. Como estava muito perto de mim, eu, olhando para cima, para a ponta da mangueira, falei:
– Você esqueceu de ligar a bomba.
Para minha surpresa, ele respondeu:
– Bomba?... que bomba? Não tem bomba nenhuma.
– Pô, meu, como a água vai chegar lá? – Não aguentei e ainda completei: – E o princípio dos vasos comunicantes?
Ele não entendeu muito bem e falou:
– Bom, se não vai sem bomba, vai no balde, porque esses vasos especiais aí a Sanemat não tem, não.
E o homem era engenheiro.
Mas a melhor ficou por conta do finado Gilberto Nazario Rodrigues. Ele trabalhava na fazenda há muitos anos e todo mundo gostava dele. Conhecia tudo de mato e era quem atendia a meninada quando iam passar as férias lá. Ele, com 70 anos, era igual a um garoto de 15, e chamado de Giba por todos. Uns médicos americanos foram conhecer o pantanal, amigos do nosso Antonio Carlos Lopes, e colocamos o Gilberto para acompanhá-los nos passeios a cavalo. Recomendamos que ele fosse só de guia e que não adiantava falar, pois eles não entenderiam nada. Dois dias depois, o Giba chegou para a gente e foi falando "stop" para todo mundo.
Quando perguntei o motivo daquilo, ele, todo garboso, respondeu que já estava conseguindo se comunicar na língua dos gringos. E, se eu não sabia, "stop" era o cumprimento deles. Não tive coragem de falar a verdade, e ele passou muito tempo dando "bom dia" para todo mundo com o "stop" dele. Velho Giba.

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