Meu
escritório da distribuidora de carnes Sabor 10 está em um prédio construído por
Vovô Marinho em 1909. Ele comprou um terreno grande na rua 7 de setembro entre
a Delamare e a 13 de junho, no centro da cidade, e construiu três casas, uma
que foi a sua residência pela vida toda, e outras duas, para aluguel. Hoje está
na parte histórica e tombada da cidade. Ficaram para tia Dirce e, com a ida de
Emilinha, sua filha que morava lá, para o Rio, resolveram vender e não queriam
que fosse para mãos de estranhos – eu e meu irmão acabamos comprando.
Transformei em quatro e já restauramos três delas. As outras duas estão
alugadas, uma para a Sandra, fisioterapeuta e que tem uma academia de Pilates,
e a outra para a Paty, minha nora, que tem uma empresa de recursos humanos.
Ficou um lugar muito legal.
– O que o senhor está fazendo? – O carro continuava acelerado.
– Onde a senhora vai? Não tá conseguindo engatar a ré – Consegui responder, com a maior gentileza possível.
– Estacionar aí, ué! Engatar ré para quê? – Já percebi uma certa neurastenia na velha. Barbeira e neurastênica.
– E precisa acelerar desse jeito? A senhora está para bater no meio-fio. Se não bater agora, vai bater na saída.
Nem me agradeceu, parou ali mesmo e foi conferir para ver se eu não estava exagerando. Como estava muito perto mesmo, olhou para mim com um sorriso maroto e, enquanto eu esperava pelas suas desculpas, ela falou:
– Mania que vocês homens têm de achar que toda mulher é barbeira. Tá muito bem estacionado.
Dei um "boa tarde" e quase um "bem-vinda ao mundo dos vivos" e entrei. Esperei alguns segundos e voltei para tirar o meu carro do lado do dela. Estacionei a uns seis metros de distância e com um framboaiam entre eles. Por via das dúvidas.
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