segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Ieda x minhas meias.

Ieda trabalha para mamãe desde que eu me entendo por gente. Acho que entrou criancinha em casa. Lembro-me dela controlando papai, que queria mais uma esfirra e ela negava, deixando-o muito puto. Tinha que ser "muito de casa" para fazer isso. Quando vi que eles acabariam saindo no tapa, acabei trazendo a Ieda para trabalhar em casa. Papai faleceu e mamãe veio morar comigo, e assim reencontrou a Ieda. Ela é muito engraçada e, como é uma senhora bonita, só a trato por Ieda Maria Vargas. Quando lhe contei que esta foi Miss Brasil, e uma das mais bonitas, ela ficou toda faceira com a comparação. É ela quem cuida das nossas roupas, e é a única que mexe nos nossos armários.
Bea resolveu comprar aquelas meias simétricas para mim. Para diferenciar, vem um D bordado em um pé e um E no outro. Na primeira vez que a Ieda guardou as meias, casou D com D e E com E. Chamei-a e expliquei que D era o lado direito e E o esquerdo, e por isso tinha que casar o par diferente, e brinquei: que nem casamento, tem que ser homem com mulher. Mas a confusão aconteceu com a mudança de marca. A Nike vem R e L, e já tive que explicar para ela que era Rigth e Left, direita e esquerda na língua do fabricante das meias. Lembrei das brigas com papai, porque ela saiu resmungando que agora ia ter que estudar "ingrês" para guardar minhas meias. A pérola veio na terceira compra de Bea. Ela me chamou e, como a melhor defesa é o ataque, já veio com os dois pés no peito, falando:
– E agora, como que caso os pés? Não tem D com E, L com R, veio ou tudo errado ou isso é daqueles casamentos de tudo do mesmo sexo.
Olhei pra aquele lote de meias com os pés separados, sem entender; quando ela completou:
– Num tem nenhum R aí. Só L. Compraram errado ou o senhor tem dois pé esquerdo, pois L é o tal do lefete, não?
Quando olhei, percebi que as meias eram das tradicionais, e o L era da marca, LUPO. Pensei comigo, "agora fudeu!".
Ela resolveu insistir que não tinha entendido aquela história direito. Esse negócio de simétrico não ser igual não tinha lógica. E completou:
– Se é diferente, não precisa escrever o lado. Pode olhar no seu sapato se tem escrito lefete ou rigete ou lá o diabo que seja. Se lá não precisa, por que na meia que vai no pé precisa?  
Realmente, tinham acabado meus argumentos. Pedi para a Bea não comprar mais meias simétricas. A Ieda tinha acabado de dar um nó no meu cérebro.

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