quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Negão

Já falei dele aqui neste blog. Foi o cara que me socorreu quando perdi a ponta do dedo na fazenda Santa Gertrudes. É o Everaldo Militão, Negao para os mais íntimos, mas só para os muito íntimos mesmo. Era o eletricista da firma e hoje continua fazendo trabalho para nós, mas de forma terceirizada. É um cara por demais espirituoso. As piadas que ele mais gosta de contar são as de negro. Quando faz alguma besteira e você chama atenção dele, a resposta é sempre a mesma: - Mas também, o que você queria? Veja a minha cor.
Uma das suas foi quando estávamos na fazenda Angico reformando um reservatório de água e pintando a parede de neutrol, que é uma tinta preta a base de pixe. Quando quis ajudar ele falou:
- Você vai se sujar que nem eu, com a diferença que em você vai aparecer.
Mas vamos ao acontecido. Todos os anos tem a quermesse da Apae aqui em Corumbá, e já se tornou uma das festas mais bonitas da região, onde a população mostra a sua solidariedade, se diverte e come com a festa. No jardim da cidade são montadas mais de 20 barracas de madeiras cobertas com lona, onde são vendidos todos os tipos de comida, uma mais gostosa que a outra. A Ema era responsável pela montagem das barracas, de um barracão central, onde as pessoas poderiam se sentar para comer e por toda a instalação elétrica e Bea, como coordenadora dessa montagem, levava um lote de pessoas com ela, inclusive o Negão. A prefeitura sempre ajudava com a mão de obra não especializada e mandava um chefe para coordenar esse pessoal, e era um sujeito com uma aparência meio engraçada. Tinha as pernas curtas, ombro estreito, barrigudinho e andava com o pé virado para a fora. Como tinha o nome meio complicado, já pregaram um apelido nele e em pouco tempo ninguém o tratava mais pelo nome, era só de Ganso.Não dava para saber se ele gostava ou não do apelido, pois não falava nada, mas atendia a qualquer chamado pelo mesmo. Ao mesmo tempo, todos os íntimos do Everaldo só o tratavam por Negao, e o Ganso não fazia parte desse grupo. Lá pelas tantas o Ganso vai e fala:
- Negão, venha até aqui.
Como todos escutaram ao chamado do ganso e sabiam o quanto o Negão era gozador, como que combinado, todos pararam de trabalhar e olharam para o Negão. Ele percebendo o clima fala:
- Vem cá, eu te conheço? Você não sabe que esse termo é pejorativo e cabe até um processo por descriminação. Eu tenho nome e você não pode me chamar pela minha cor. Eu achava que era moreninho e você falando isso pode até me traumatizar - falou isso muito sério e parece que quanto mais preto ele ficava mais branco ficava o ganso. O bicho mexia os lábios e não saía som nenhum. Todos rachando o bico e já com dó do ganso, quando o Negao completou, já não agüentando e começando a rir:
- E aí, vai ficar aí parado sem GRASNAR nada.
Só aí que ele percebeu que era gozação, mas depois disso, acho que só por garantia, ele só tratou o Negão de "Seu Everaldo Militão".

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