– Por quê, pneu? – Esse era o apelido de
nós dois por causa da rima dos nomes (Dirceu, Tadeu, pneu).
– É composto pelos quatro primeiros números PRIMOS, e
como sou seu primo preferido você nunca vai esquecer. XXXX-1357. Gostou?
– Vou até guardar, pneu, mas
tenho que esquecer a regra ou vou telefonar para XXXX-1235.
Demorei
uns cinco minutos para convencê-lo de que esses eram os quatro primeiros
primos, pois o 2, apesar de ser par, só é dividido por ele mesmo e pela
unidade, o que é a definição de número primo.
Temos
muitas coisas em comum, até a falta da primeira falange do indicador. A
diferença que a minha é da mão esquerda e a dele é da direita, mas isso porque
sou destro e ele canhoto. Empatamos novamente. Ele me contando como foi que
aconteceu o acidente – apesar do terror do
fato, foi muito engraçado e eu não consegui parar de rir durante o relato todo.
Numa das casas de tia Dirce, que hoje é o escritório da distribuidora; a porta
de entrada tinha 3,40 metros de altura e, antes da reforma, vivia emperrada.
Pediram para que ele desse jeito, e ele resolveu fazer um diagnóstico para
saber se o problema era de fechadura ou dobradiça. Para abrir foi um parto, e
na hora de fechar ele pegou a fechadura com a esquerda e enfiou o dedo
indicador no vão entre o batente e a porta. Puxou com toda força e, quando
sentiu aquele choque, achou que tinha pego só a carne e cortado aquela ponta
gordinha do dedo. Como esguichava muito sangue, enrolou um pano na mão e foi
dirigindo para o hospital. Contava isso como um ato de maior coragem. No
hospital que ele viu que a coisa tinha sido mais séria. Após a cirurgia, a
primeira coisa que fez foi voltar ao local fatídico. Abriu a porta e caiu uma
coisa no chão. Quando olhou, teve que se sentar na calçada e chamar alguém para
ajudá-lo a levantar da rua. Levou um puta susto com a sua ponta de dedo caída
no chão, apontando para ele. Afrouxou as tripas na hora.
Outra
história engraçada dele, foi quando falou que não viajaria mais de carro com
seu filho, o Marcão. O bicho era louco e só andava voando. Antes de criticar,
resolvi questionar de qual velocidade ele falava, e quase cai duro com a
resposta:
– Não anda a menos de 100 por
hora.
– Porra, pneu, na cidade ou na
estrada?
– Na estrada, lógico. As vezes
vai a 130.
– Cacete, e a quanto você anda
quando vai para Campo Grande? – ele tem uma Hilux que
usa para entregar seus mármores.
– 70.
– Você que é louco, andar a 70
nessa estrada. Caminhões vão tudo a mais de 100.
– Você nem parece engenheiro. A
velocidade MÁXIMA é 80. Nunca se deve andar no limite. Tem que ter uma margem
de segurança. Depois, tenho um puta de um retrovisor e vou o tempo todo de olho
nele. Pintou caminhão, eu vou para o acostamento.
Não
tinha mais argumentos. O bicho era barbeiro no último grau.
Encerrei
a conversa pedindo a proteção do São Cristóvão, padroeiro dos motoristas, para
meu primo Dirceu. Trabalho árduo, o dele.
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