segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Primo e primos

Dirceu é meu primo preferido, quase irmão. Filho de minha madrinha, tia Dirce, irmã de papai. Fomos criados juntos e ele é quase um ano mais velho do que eu. Todas as sacanagens do início da puberdade, aprendi com ele. Dançar, a primeira vez, foi com ele, ao som de Maysa, a gata mansa, cantando "de cigarro em cigarro", aquele bolerão de dois pra lá, dois pra cá. Dividíamos até namorada. Amigo do peito até hoje. Seu telefone ficou inesquecível, da maneira com que ele me passou os números da primeira vez:
 Escolhi pensando em você.
– Por quê, pneu?  Esse era o apelido de nós dois por causa da rima dos nomes (Dirceu, Tadeu, pneu).
 É composto pelos quatro primeiros números PRIMOS, e como sou seu primo preferido você nunca vai esquecer. XXXX-1357. Gostou?
– Vou até guardar, pneu, mas tenho que esquecer a regra ou vou telefonar para XXXX-1235.
Demorei uns cinco minutos para convencê-lo de que esses eram os quatro primeiros primos, pois o 2, apesar de ser par, só é dividido por ele mesmo e pela unidade, o que é a definição de número primo.
Temos muitas coisas em comum, até a falta da primeira falange do indicador. A diferença que a minha é da mão esquerda e a dele é da direita, mas isso porque sou destro e ele canhoto. Empatamos novamente. Ele me contando como foi que aconteceu o acidente  apesar do terror do fato, foi muito engraçado e eu não consegui parar de rir durante o relato todo. Numa das casas de tia Dirce, que hoje é o escritório da distribuidora; a porta de entrada tinha 3,40 metros de altura e, antes da reforma, vivia emperrada. Pediram para que ele desse jeito, e ele resolveu fazer um diagnóstico para saber se o problema era de fechadura ou dobradiça. Para abrir foi um parto, e na hora de fechar ele pegou a fechadura com a esquerda e enfiou o dedo indicador no vão entre o batente e a porta. Puxou com toda força e, quando sentiu aquele choque, achou que tinha pego só a carne e cortado aquela ponta gordinha do dedo. Como esguichava muito sangue, enrolou um pano na mão e foi dirigindo para o hospital. Contava isso como um ato de maior coragem. No hospital que ele viu que a coisa tinha sido mais séria. Após a cirurgia, a primeira coisa que fez foi voltar ao local fatídico. Abriu a porta e caiu uma coisa no chão. Quando olhou, teve que se sentar na calçada e chamar alguém para ajudá-lo a levantar da rua. Levou um puta susto com a sua ponta de dedo caída no chão, apontando para ele. Afrouxou as tripas na hora.
Outra história engraçada dele, foi quando falou que não viajaria mais de carro com seu filho, o Marcão. O bicho era louco e só andava voando. Antes de criticar, resolvi questionar de qual velocidade ele falava, e quase cai duro com a resposta:
– Não anda a menos de 100 por hora. 
– Porra, pneu, na cidade ou na estrada?
– Na estrada, lógico. As vezes vai a 130.
– Cacete, e a quanto você anda quando vai para Campo Grande?  ele tem uma Hilux que usa para entregar seus mármores.
– 70.
– Você que é louco, andar a 70 nessa estrada. Caminhões vão tudo a mais de 100. 
– Você nem parece engenheiro. A velocidade MÁXIMA é 80. Nunca se deve andar no limite. Tem que ter uma margem de segurança. Depois, tenho um puta de um retrovisor e vou o tempo todo de olho nele. Pintou caminhão, eu vou para o acostamento. 
Não tinha mais argumentos. O bicho era barbeiro no último grau.
Encerrei a conversa pedindo a proteção do São Cristóvão, padroeiro dos motoristas, para meu primo Dirceu. Trabalho árduo, o dele.

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