Quando
ele falou que ia ver a final da Libertadores, eu já fiquei meio injuriado. Sair
de Corumbá e ir a São Paulo para ver uma partida de futebol era demais. A
justificativa era que ele já tinha os ingressos e a Paty, esposa piracicabana,
aproveitaria para ver os pais. O cunhado Zé Carlos, na época, achou que o
Corinthians não chegaria à final, e por isso marcou uma viagem para a Grécia, e
minha filha Laura não quis perder a viagem para o CORINTHIANS. Depois confirmei
que foi confusão de datas, pois a outra alternativa não existia. Beto ia na
cadeira cativa dele. Foi, viu e venceu. Já voltou de lá combinado com um bando
de loucos que iriam para o Japão vencer o Chelsea. Vi que a coisa era séria
pelos companheiros de viagem: só corinthiano fanático, desses de frouxar
intestino em dia de decisão. O Levon, sogro da Laura, não vê jogo, fica dando
volta na quadra e prestando atenção nos fogos. Para os nossos netos comuns, o
primeiro presente dele sempre foi uma camisa do timão. Os netos, de 10 e 12
anos, irresponsáveis pela idade, não tinham como ver o tamanho da coisa. O
irmão do Levon, o Bada, fanático igual. Zé Carlos, já injuriado porque uma
merda de viagem para a Grecia o impediu de ver o timão campeão da Libertadores.
Ninguém me tira da cabeça que ele foi o mentor dessa ideia. Quando vi quem era
o Chelsea, time do Ramirez, David Luiz e agora o Oscar, os maiores craques da
seleção brasileira, não pude deixar de pensar que iriam lá pra PQP, para
tomarem no rabo. Era muita coisa para ver o seu timão ser surrado. Fiquei com
muita dó deles todos. Ainda não tinha entendido a alma corinthiana – o que só
aconteceu depois que fomos campeões. É, fomos, pois virei corinthiano também,
agora definitivamente e da turma dos fanáticos. É impossível para quem gosta de
futebol não se apaixonar por esse time. Era meio santista, sou da epoca de
Pelé, meio vascaíno, neto de portugueses, e torcia para o CORINTHIANS para não
ver o Beto sofrer com as suas derrotas. Quando havia confronto entre eles,
torcia para o que estava melhor.
Com
a ida para o Japão, o Beto comprou um chip telefônico japonês, e foi de
repórter passando todas as notícias para a família toda.
Nós temos um chat, e tudo o que envolve a Big Famely é registrado ali.
Para os que acham que eu não tenho personalidade definida, pois onde já se viu
um cara com 62 anos mudar de time, vou transcrever aqui o motivo dessa minha
decisão, e deixar a pergunta: se alguém que ama seu filho como eu amo os meus,
não faria a mesma coisa.
A coisa começou com uma piada que contei no chat assim que terminou o jogo, com
o Corinthias campeão, pois a mesma representava muito bem tudo que tinha
acontecido e era assim:
"Um cara estava dando carona para um padre na sua Ferrari quando a mesma
pifou. Desceu e tentou arrumar.
A cada tentativa, ele falava um palavrão, do tipo: 'Puta que pariu', enquanto o
padre rebatia: 'tenha fé, meu filho'.
Isso foi até que ele já tinha desmontado o motor da Ferrari inteiro, e no
último 'filho da Puta', ele nao aguentou o 'tenha fé, meu filho', e falou: 'vá
se foder, seu padre, e arruma essa merda você então'.
O padre entrou no carro, sem motor, colocou a chave na ignição, deu partida e
quando o mesmo funcionou, virou pro rapaz e falou: 'Isso é fé, meu filho'.
O cara olhou pro padre e falou: 'vai ter fé assim na puta que pariu'."
E continuei com os comprimentos aos fanáticos.
"Corinthianos, sair do Brasil, viajar até o outro lado do mundo para ver o
Corinthians enfrentar o campeão europeu, plageio o dono da Ferrari e digo: 'vão
ter fé assim na puta que os pariu'.
Parabéns, torcedores do timão."
Aí, a Laura perguntou:
– O que foi mais emocionante, Betão? Libertadores ou hoje?
Aí o Beto deu a resposta que me tornou um corinthiano legítimo, e a transcrevo
integralmente:
"Hoje a tensão foi acumulada de todos esses dias de viagem. Mas
quanto à nossa fé foi o que papai falou... É difícil explicar pra quem não
é Corinthiano, mas mesmo assim eu vou tentar. Falar que viemos aqui pra ver o
Corinthians ser campeão não é verdade. Ver o Corinthians ser campeão eu vejo
pelo TV super contente! É muito legal ver ao vivo mas não é motivo pra
tamanho sacrifício. Nós viemos pra cá pra fazer o Corinthians ser
campeão. E fizemos!!"
Isso não é ser fanático. Isso é, simplesmente, acreditar. Isso é pura fé.
VIVA O CORINTHIANS.
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