A
parte mais complicada da Ema é a de Suprimentos e Logística. Você tem que
atender um monte de nego desorganizado, tudo é urgente, e o acesso a algumas
fazendas não é fácil. Caminhão, lancha e trator. São dois transbordos e dois
dias de viagem. Construção, então, pedra para virar concreto, lá não tem nem
para jogar em louco, tem que sair daqui ensacada. Mas tive pessoas muito
competentes atuando na área, como Suzana, Rosangela e agora a dupla Vitor-Quidinho.
As principais características são honestidade, organização e persistência, que
nesse caso é sinônimo de saco grande. Mas teve lances engraçados na área. Com a
saída da Suzana, que já estava conosco há mais de dez anos e conhecia tudo e
todos, a entrada da Rosangela foi meio traumática – para ela, no início. Ela
estava acostumada com trabalho de banco, em que só conversava com nego de meia
e sapato. Quando mudou o público para chinelo de dedo, ela estranhou muito. Não
tinha um mês de firma, quando entrou em minha sala quase chorando e pedindo as
contas. Motivo: seus subordinados não a respeitavam. Depois de muita
insistência, pois eu queria as suas contas só com essa explicação, resolveu
falar que o Seu Antunes tinha xingado ela. Mais cinco minutos de conversa para
saber de que foi xingada, e ela, relutante em dizer aquelas palavras de baixo
calão, falou: "de 'filha da puta'".
Na hora, eu disse que quem ia ser demitido era ele, que eu não admitia essa falta de respeito, como é que ele chega para seu chefe, e ainda mais uma senhora, e a chama desse nome, assim na cara!
Aí ela se assustou e disse que não foi na cara, foi por telefone.
– É a mesma coisa, você dá uma ordem para ele e ele fala, não vou fazer, sua filha da puta. Não tem cabimento.
Aí ela me corrigiu dizendo que não foi bem assim. Ela tinha dado uma ordem para ele carregar o caminhão, junto com o Vitor, e o Quidinho, antes de desligar totalmente o telefone, falou para o Vitor:
Na hora, eu disse que quem ia ser demitido era ele, que eu não admitia essa falta de respeito, como é que ele chega para seu chefe, e ainda mais uma senhora, e a chama desse nome, assim na cara!
Aí ela se assustou e disse que não foi na cara, foi por telefone.
– É a mesma coisa, você dá uma ordem para ele e ele fala, não vou fazer, sua filha da puta. Não tem cabimento.
Aí ela me corrigiu dizendo que não foi bem assim. Ela tinha dado uma ordem para ele carregar o caminhão, junto com o Vitor, e o Quidinho, antes de desligar totalmente o telefone, falou para o Vitor:
–
Vamos carregar a porra do caminhão... é, só nós dois... por quê? Por quê?...
Porque a filha da puta quer.
Uma observação: Quidinho tinha 60 anos, e o Vitor perde no braço de ferro para um mosquito.
Com a história melhor contada e já conhecendo as peças, expliquei a ela que esse é o linguajar desse povo, e tinha que ser interpretado corretamente. Primeiro, ele não se dirigiu a ela, uma vez que ele achava que ela já tinha desligado a porra (colocada propositadamente na frase) do telefone. Segundo, o "filha da puta" foi para se antecipar ao que o Vitor ia falar, e mostrar a ele que ele já tinha tentado de tudo e o jeito era carregar a porra do caminhão. Ela se tranquilizou, eu acho, e voltou para sua sala. A conversa surtiu efeito e percebi isso quando estava em outra reunião com ela, quando atendeu o seu celular e fiquei escutando o papo. Foi mais ou menos assim:
– Fala, Quidinho.
– ....
– Porra, meu, manda ele se fuder. Nem a pau, só paga depois da entrega. Eu mesma que falei com esse veado. Tem até contrato escrito.
Desligou o telefone e, quando me viu, deu uma risadinha sem graça e falou:
– O senhor tinha razão. É a única linguagem que entendem. Já acostumei.
Uma observação: Quidinho tinha 60 anos, e o Vitor perde no braço de ferro para um mosquito.
Com a história melhor contada e já conhecendo as peças, expliquei a ela que esse é o linguajar desse povo, e tinha que ser interpretado corretamente. Primeiro, ele não se dirigiu a ela, uma vez que ele achava que ela já tinha desligado a porra (colocada propositadamente na frase) do telefone. Segundo, o "filha da puta" foi para se antecipar ao que o Vitor ia falar, e mostrar a ele que ele já tinha tentado de tudo e o jeito era carregar a porra do caminhão. Ela se tranquilizou, eu acho, e voltou para sua sala. A conversa surtiu efeito e percebi isso quando estava em outra reunião com ela, quando atendeu o seu celular e fiquei escutando o papo. Foi mais ou menos assim:
– Fala, Quidinho.
– ....
– Porra, meu, manda ele se fuder. Nem a pau, só paga depois da entrega. Eu mesma que falei com esse veado. Tem até contrato escrito.
Desligou o telefone e, quando me viu, deu uma risadinha sem graça e falou:
– O senhor tinha razão. É a única linguagem que entendem. Já acostumei.
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