Sempre me pego pensando em quais fatos mais antigos eu tenho na memória. Fico sem saber o que eu realmente vi e o que se firmou por fotos ou narrativas de terceiros. Da casa que tínhamos na Mello Alves, em São Paulo, tenho uma lembrança muito nítida, mas não sei qual foi a última vez que estive lá e ninguém consegue me precisar essa data. Da babá, a última de que me lembro, contratada com o fim específico de cuidar de mim, foi a Rosinha. Lembro-me dela cantando Luar do Sertão para me fazer dormir e só isso não define a minha idade. Mas me lembro também dela me levando para tomar banho de macaquinho, quando eu subia nas suas costas, me agarrava no seu pescoço e fazia-a galopar pela escada do sobrado acima. Calculando o peso dela, era muito magrinha, e a velocidade que eu conseguia imprimir, dá para concluir que eu não podia pesar mais do que 10 kg. Como eu era muito magrinho também, calculo de 4 para 5 anos. Aí entro numa contradição, pois eu tinha uma serraria nos fundos de casa, e fazia cadeiras e mesas de caixote de frutas, com ela me ajudando, lógico. Não era tão inteligente assim para fazer isso com essa idade, e volto para a estaca zero.
Com papai, me lembro dele estacionado em frente da igreja matriz, esperando a missa acabar e pegar Mamãe. Eu ficava de pé no banco e com as mãos em seus ombros, enquanto ele lia jornal. Acho que não descíamos na igreja juntos com ela, pois eu ficava correndo e azucrinando a missa, mas essa conclusão já é minha atual. Lembro até de escutar a voz de mamãe cantando na missa e sobressaindo sobre as demais e papai identificando ela para mim. Como ficava de pé no banco, calculo de 4 a 5 anos, de novo. É incrível como isso me deixa nervoso. Não sei quando a minha vida começou realmente, com todos os registros em minha memória. Sinto como se me faltassem esses anos iniciais. É como você comprar um bolo com uma mordida desconhecida. Se eu pudesse achar que isso aconteceria, começaria esse blog mais cedo. A primeira história seria, "Comecei sentindo um tapa na bunda, que só parou quando chorei. Que merda será que já fiz".
Já na escola Domingos Sávio, me lembro do dia em que fui à aula com o meu primeiro relógio, novinho, sem saber ver as horas. O Roberto Costa Marques, que era bem mais velho, me vendo com o relógio perguntou as horas. Lembro da minha resposta, mostrando o relógio para ele falei: "Não sou seu empregado. Quer saber? Olhe aí que eu deixo.” Devia ter 5 para 6 anos para não saber olhar horas e ter esse tipo de resposta.

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