Antigamente as brigas eram limpas. Não tinha esse negócio do cara puxar arma, nem mesmo faca. A obrigação era reagir e não levar desaforo para casa, bater ou apanhar, não fazia muita diferença.
Estava com 18 para 19 anos e ia com a namorada em um baile no Corumbaense. Naquela época, não se saía sozinho, nem de dia ou mesmo de turma com a sua garota. Tinha que levar vela, assim chamávamos a acompanhante, e tinha que ser alguém da família. Íamos com seu irmão, que era um dos meus melhores amigos e sua namorada. Ela era uma carioca e também não podia sair sozinha, mas como era mais moderninha, a vela não precisava ser parente e nós, já no caso um candelabro, servíamos. Como se não bastasse a minha ex futura sogra mandou uma filha de uma amiga de Campo Grande com a gente e ali estava o problema. A menina era um entojo, tinha namorado que não veio com ela para Corumbá, quis ir ao baile e não quis dançar com ninguém.
Antigamente era assim. A mulher ficava nas mesas sentadinhas, e os dançarinos vinham e tiravam as solteiras para dançar, com um "permita-me esta música". Dançava e quando acabava a música a levava de volta a mesa. Quem ia no baile era para dançar, e tinha que ser sutil e mostrar se tinha gostado ou não para inibir ou animar o gajo a voltar na próxima música, o que não se podia era recusar, ou dar tábua, como se dizia na época. Eu e o cunhado já estávamos putos com a pé sujo, assim chamávamos os campo-grandenses na época por causa da terra vermelha de lá, pois a cada música ficava um de castigo fazendo companhia para a chata que se recusava a dançar com quem quer que fosse. Estávamos vendo que a rapaziada estava ficando nervosa com as recusas e eram de outra turma, é, na nossa época existiam varias turmas e, normalmente rivais, que disputavam as mesmas meninas. Como nós conhecíamos todo mundo, começamos a perceber que os pretendentes dançarinos eram todos do mesmo grupo e já estavam fazendo de sacanagem com a gente e usando a nojentinha. Não tivemos mais dúvidas quando todos os recusados se colocaram em fila em frente da nossa mesa e a cada nova recusa colocavam um cruzeiro sobre a mesa, que era para pagar a tábua. Quando acabou a fila e com aquele bolo de dinheiro sobre a mesa, a menina, já meio chorando, quis ir para casa. Passei a mão sobre a mesa jogando o dinheiro no chão e disse para ela não se preocupar que eles não iriam incomodar mais.

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