Todas às vezes que pego uma estrada eu me lembro daquela viagem. Teve momentos muito bons e outros terríveis, mas todos inesquecíveis. Era julho de 1974, em plena copa do mundo, era uma sexta feira e o Brasil enfrentava a Argentina no dia seguinte. Minha filha estava com alguns meses e Tontonio tinha levado Lenir para São Paulo para tratamento, pois ela tinha perdido o primeiro filho logo que nasceu. Minha irmã caçula Maria Lucia, então com 14 anos, estava em uma excursão com as coleguinhas do colégio e Mena minha cunhada, fazia cursinho em São Paulo e morava comigo. Esse era o panorama do momento. Para nos distrairmos fomos ao Play Center, parque de diversões recém inaugurado, e quando voltamos para casa, por volta da uma da madrugada, na porta de meu quarto tinha um bilhete da Mena, que ficou cuidando da Laura, dizendo para acordá-la que tinha recado importante para nós. Assim o fizemos e ficamos sabendo que mamãe tinha ligado avisando que Maria Lucia tinha empacado em Belo Horizonte com saudades de casa e era para nós irmos pega-lá. Eu tinha um Maveric e resolvemos sair direto. Não estávamos com sono e se deitássemos naquela hora perderíamos o jogo, e Brasil e Argentina em copa do mundo era impensável.
Estava um frio absurdo e o carro com o sistema de aquecimento ou quebrado ou nunca existiu mesmo, deixava a temperatura interna aparente abaixo de zero e me lembro da neblina congelar no para brisa e termos que parar várias vezes para abastecer o reservatório de água. Se ligasse o limpador depois de congelado podia estragar a borracha. Dirigia com uma mão e sentado sobre a outra e ia revezando. No começo até que estava bom e fomos conversando. Quando chegou o sono é que foi tora. Veio para os dois ao mesmo tempo e não tinha onde parar. Eu dirigindo, dormia de olhos abertos e me sentia no Play Center no trompa trompa e queria encontrar alguém para bater de frente e ver a cara do motorista. Quando acordava com o barulho de caminhão cruzando com a gente que via o perigo pelo qual tínhamos passados. Acordava Tontonio e passava o volante para ele. Deitava e dormia profundamente quando sentia o nariz escorrendo e o ranho congelando. Acordava e achava que estava com hipotermia. Esfregava as mãos, limpava o nariz e desmaiava de novo até que o Tontonio parava e pedia para pegar um pouco, pois ele não agüentava mais. Achava que tinha passado horas e eu já estava recuperado e quando olhava o relógio tinha passado 20, 30 minutos. Pegamos um guarda rodoviário no acostamento e pensamos em entregar o carro para ele dirigir. O puto não tinha carteira. Devia ser o único guarda rodoviário sem carteira do país. Perguntamos se ele não sabia dirigir sem carteira mesmo e desistimos com a resposta de "esse tipo de carro não e eu sou guarda rodoviário, como vou dirigir sem carteira" . Pensei em perguntar que tipo de carro ele sabia mas desisti. Devia ter perguntado pois ia servir para espantar o sono. Com ele conversando com Tontonio consegui dormir mais cumprido e quando peguei fui até BH.

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