segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Cadeia nele

Essa é recente, não tem mais que 15 dias. Eram duas da tarde quando recebi o telefonema de meu mestre de obras. A polícia tinha prendido dois funcionários nossos, um pedreiro e um servente. Estavam na federal e iam em cana. Nem perguntei o motivo da prisão, já imaginando bebidas e brigas e fui para lá. Chegando na delegacia, encontrei o servente em prantos. Era o mesmo que, uma vez trabalhando na fazenda, correu de um lote de vacas achando que elas iam mordê-lo. Até escrevi essa história aqui. Fiquei muito preocupado, pois pelo choro parecia que tinha apanhado. Quando consegui acalmá-lo ele começou a falar coisas desconexas, que a mulher ia largar dele, e na hora achei que ele tinha, no mínimo, fumado maconha estragada. Quando perguntei o motivo da mulher deixá-lo ele respondeu:
- O senhor acha que ela vai acreditar que fui preso porque estava trabalhando. Nunquinha.
Nesse momento a delegada, muito gentil e simpática por sinal, me pediu que entrasse em sua sala que iria me explicar o que estava acontecendo. A obra que eu estava fazendo foi embargada pelo Iphan e eles não haviam respeitado o embargo e me mostrou os documentos assinados pelo meu mestre de obras. Eram dois: uma cópia da notificação para apresentação de documentos, e uma fotografia do documento de embargo. Este ela não tinha copia, pois a mesma estava afixada no muro da obra. Foi aí que tudo se esclareceu. A casa que eu estava reformando estava na área tombada da cidade. Quando fui murar o terreno em frente da construção, o mesmo ia obstruir a visão da casa e pediram apresentação de um projeto para aprovação, através de uma notificação que chegou as minhas mãos e um documento de embargo paralisando simultaneamente a obra, que foi fixado no muro, e sem cópia para meu conhecimento. O mestre de obras achando que se tratava de um único documento, levou o primeiro para mim e nem citou que tinha uma "cópia" pregada no muro, dizendo que a obra estava embargada. Quando li a notificação, ainda reclamei que ele nem sabia ler direito e mandei continuar o serviço. Explicado isso tudo para a delegada, que fez um relato completo da minha versão, me fez dar ciência de que a obra estava embargada e soltou os presos.
O chorão queria entender o que ele tinha feito para ser preso e fiquei muito preocupado. Já pensou se ele estava trabalhando firme na hora que a policia chegou? Não teria desculpa melhor para nunca mais pegar pesado no serviço. Iria falar para todo mundo que, neste país, quem trabalha muito duro, acaba na cadeia e ninguém ia poder desmenti-lo. Por isso que, cada vez mais, concordo com aquele amigo que para tudo fala "NÃO É FÁCIL", mas não está nada fácil mesmo tocar as coisas por aqui.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Viagem a Goiânia

Começamos a mexer com confinamento assim que Guilherme se formou. No início, de forma bastante tímida, arraçoando o gado no próprio pasto, quando este estava seco. Com os bons resultados, fomos incrementando o negócio e hoje temos uma estrutura razoável onde conseguimos dar acabamento em 2000 reses simultaneamente e, dependendo da estação da seca, rodar até 3 lotes por ano, ou seja 6000 reses. As gavetas onde as reses ficam confinadas são alinhadas e em número de 8, e os cochos fazem uma reta de mais de 320 metros de comprimento. A idéia é ir aumentando as linhas passando de duas para cinco.
Com isso recebemos um convite para participar de uma conferência de confinadores em Goiânia, melhor ainda, para a Ema participar de uma mesa redonda onde seriam apresentados vários problemas brasileiros e como estão sendo resolvidos. Depois de alguma discussão e definirmos que o Beto, meu filho mais velho e diretor da Ema, como agrônomo e quem está no dia a dia da empresa seria a pessoa indicada para essa apresentação, nos preparamos para a viagem, que para mim e Guilherme passou a ser passeio e para Beto, meio tortura.
Goiânia tinha outro atrativo para mim, era a terra do Marcelo Pimenta, meu amigo de 30 anos atrás e que eu não via há 25, e que também participaria da conferência. A viagem foi muito proveitosa, mas nem por isso menos cansativa. Nosso vôo de ida saía de Campo Grande às 4h da madrugada, e tínhamos que estar no aeroporto às 3h. Fizemos Corumbá - Campo Grande de carro, e éramos para sair logo após o almoço e dormir cedo, mas o Guilherme foi enrolando e acabamos saindo às 5h da tarde e fomos chegar em Campo Grande às 10h da noite. Até jantar, deitamos as 11:30h e acordamos às 2h. Já estava resolvido que chegando em Goiânia, mataria a abertura da conferência e ficaria dormindo a manhã toda. Chegando ao hotel, morto de sono, veio a notícia de que nosso quarto só seria liberado após o meio dia. Tomamos o café da manhã e fomos para dormir na conferência.
O encontro com o Marcelo foi de cinema. Num saguão lotado de gente, vejo ele se afastando rápido e reconheci o seu andar apressado. Saí atrás e só o alcancei porque ele parou para conversar com um grupo de amigos. Cheguei por trás dele e falei:- Rapaz, te conheci pelas costas.Nos abraçamos e ele já respondeu:- Não fale assim na frente de meus amigos que não sei o que eles podem pensar.Fizemos festa e passamos três dias almoçando, jantando e assistindo palestras juntos. Foi e continua sendo um grande amigo.

No dia da mesa redonda do Beto, não sei se por qual dos motivos, foi o melhor do encontro. O mediador quis reunir três pessoas com grandes problemas e mostrar aos participantes que com trabalho e conhecimento eles podem ser resolvidos. Convidou o diretor da Folha de São Paulo para falar dos problemas na determinação da quantidade de jornais a serem impressos por dia. Quando você começa a se inteirar do problema é que percebe a dimensão dele. Quanto produzir de um produto extremamente perecível, jornal do dia anterior não tem nenhum valor, de tempo de distribuição absurdamente curto e com uma quantidade de pontos de venda absurdamente grande. A segunda convidada foi a diretora de recursos humanos da Natura, que comercializa um produto cuja vida média, do lançamento de um perfume até a sua retirada, é de aproximadamente 6 meses e a quantidade vendida para absorver os custos fixos tem que ser meio grande.E o Beto, diretor da nossa empresa pecuária, operando nesse pantanal com um ciclo de águas que fazem os suportes das pastagens variarem de maneira meio absurda, com uma logística de transporte dificílima e isolado de tudo e de todos. Fiquei muito orgulhoso de ver meu filho falando para una platéia tão seleta e, modéstia a parte, ele se saiu muito bem. Isso foi no segundo dia e nós já recuperados da viagem fomos comemorar o resultado do Beto. Marcelo nos levou ao point de Goiânia, onde tomamos um tipo especial de cerveja, a tal da Devassa, fermentada de trigo ao invés de cevada, e que considero hoje, como a melhor que já tomei na vida. Saímos trançando pernas.

O último dia do encontro foi reservado para visitar um dos maiores confinamentos de Goiânia, onde eles fazem a engorda simultânea de mais de 30.000 reses. Foi muito proveitoso conhecer a logística de transporte, acompanhamento e embarque de tanto gado. Na volta da visita aconteceu um fato engraçado. O Marcelo começou a falar de sua preocupação com a filha que está com 17 anos e ia para a faculdade e ele, por demais ciumento, questionando se conseguiria deixá-la ir morar sozinha em outra cidade. Usei toda a minha psicologia, falando coisas inéditas do tipo, "criamos os filhos para o mundo" (eu devo ter escutado isso umas 100 vezes), mas não consegui acalmá-lo muito, o bicho é por demais ciumento. Na chegada da visita ele quis nos levar em sua casa para conhecermos os filhos e rever sua esposa. Quando me apresentaram a Vitoria, esse era o nome de sua filha, falei na hora para ele:
- É companheiro, agora entendi a sua preocupação. Você tá ferrado.
É uma morena maravilhosa. O filho Gabriel, com 13 anos, é cara do Harry Porter e só fui descobrir isso depois que voltei para Corumbá. Foi uma viagem muito proveitosa, onde aprendemos muito, convivi 3 dias com meus dois filhos e revi um grande amigo. Nota 10.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

D.Julieta

Todo mundo acha que sua mãe é a melhor do mundo, já eu... tenho certeza. D. Julieta, ou Juju, para os muito íntimos, é uma santa, vaidosa, mas santa. No último 21 de setembro, aniversário de Corumbá, eu fiquei encarregado das velhas, como chamamos carinhosamente Julieta e Odilza, minha sogra. Queriam ir a avenida assistir ao desfile das escolas e das forças armadas. O carro é um focus e entrar as duas, as assistentes, cada uma tem a sua e duas cadeiras de rodas, era impossível. A solução foi levar uma cadeira só, e se necessário, fazer baldeação no trecho interrompido para o desfile. Quando cheguei verifiquei que estava tudo fechado e o mais próximo que conseguiria parar do nosso destino, que era a casa da avenida de Mamãe, ficava a três quadras e a baldeação seria muito difícil. Aí que me dei conta que estava com duas presidentes em meu carro, a do asilo São Jose e da APAE, e ambas cadeirantes. Parei no primeiro guarda e falei:

- Me arrume um batedor rápido para eu levar as presidentes para a avenida. Estamos atrasados e elas serão homenageadas. 

Ele coçou a cabeça e ficou sem saber o que fazer. Aumentei a pressão:

- O desfile não vai começar sem elas e você, nessa sua dúvida, está atrasando tudo. Se a organização não te avisou disso é problema deles. Agora se você não vai me deixar entrar, resolva de uma vez para eu ligar ao prefeito e informar seu nome a ele. O que não podemos é ficar um olhando para a cara do outro aqui parados.

Ele acinonou o rádio e pediu uma motocicleta e chegamos em casa com batedores e abrimos o desfile. Muito merecido. Em compensação, ficamos de castigo até acabar tudo, pois tive que recolher o carro na garagem de mamãe e só sair quando liberaram a rua, que foi no fim de tudo. Mas o ponto alto foi quando resolvi fazer uma filmagem das duas. Eu filmando e elas fazendo posse. O personagem principal, ou melhor não grato, foi o travesseiro. Elas achando que seria uma foto e não sabiam aonde esconder o pobre travesseiro, até que mamãe deu jeito. Digno de postagem esse filminho. Se for para o Youtube faz sucesso. Essa mamãe, 90 anos e vaidosa ainda, querendo sair bonita na foto.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

É mole?

Tontonio é o político da família. Acha que cada coisa tem um jeito certo de se fazer e porrada não se inclui em nenhuma delas. Apesar de todo mundo falar que eu sou o racional e ele o emocional da dupla, ele nunca perdeu a linha com quem quer que seja, enquanto eu, mais que um par de vezes, já rolei no chão com marmanjo. Exceção só para o garçom do mister Pizza. Ele tem suas válvulas de escape e de vez em quando elas emperram e o colocam em situações constrangedoras. 
Certa vez, acabado uma reunião nos escritórios de uma das empresas que representávamos, onde ele teve que se conter muito para não mandar todos a merda, os anfitriões foram nos levar até o elevador. Cumprida todas as formalidades de despedida, e ele super contido, entramos no elevador, e assim que a porta de fechou, ele, dando vazão a sua raiva reprimida, deu uma banana para a porta fechada, exatamente no momento em que a mesma reabria e as 5 pessoas participantes da reunião estavam olhando para dentro do elevador. Na mesma hora, apesar do paletó fechado, ele embalou o movimento e cruzou os braços, numa cruzada nunca dantes realizada por qualquer ser humano. Poderia se dizer que foi uma cruzada de manual, onde estaria assim descrito:


1)estique o braço direito e feche a mão;


2)coloque o punho esquerdo com a mão fechada na junção interna do braço com o antebraço direito;


3)articule o braço direito fechando o mesmo sobre o punho esquerdo;


4)continue o movimento com o braço direito dando um laço no braço esquerdo, abrindo as duas mãos. 


Do 1) ao 3) temos a banana e o 4) é o despiste.
Assim que a porta se fechou pela segunda vez, ele encheu a mão com suas bolas e as balançou para a porta, e nesse instante a mesma se abriu novamente. A sorte é que dessa vez o pessoal da reunião estava de costas, pois não sei qual seria o disfarce naquela situação. Voltaram para nós e avisaram que se não apertássemos o botão do elevador ele iria ficar abrindo e fechando a porta sem sair do lugar. Assim que ele começou a descer, o Tontonio mostrando todo seu repertório de mímicas, mandou todos tomar no rabo com aquele sinal característico, onde o dedo "pai de todos" fica esticado e o "fura bolo" e "seu vizinho" encolhidos. 
Não conseguíamos parar de rir da situação em que ele se colocou e, com isso, aliviou toda a tensão acumulada da reunião. É mole?

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Pequenas confusões

Ele era meu melhor amigo e ainda irmão mais velho de minha namorada. Cara boa pinta começou a querer namorar a filha do almirante da marinha baseado aqui em Corumbá, uma morena por demais de bonita.
Quando começou a paquera entre os dois, junto vieram as recomendações dos pais dele, de que se lembrasse que ela era uma moça fina, e que ele se portasse sempre como um cavalheiro, etc, etc.
As coisas iam bem e às vezes saíamos juntos. Além de boa companhia, ele servia de vela. É, vela mesmo, aquela figura que acompanha os namorados, que naquela época não podiam sair sozinhos. Eu tinha o irmão, ou todas as outras 3 irmãs, que aí já era um candelabro mesmo sendo todas muito simpáticas. Mas voltemos a saída com o casal recém emplacado.


Estávamos passeando no meu carro, e escutando a conversa dos dois atrás e não dava para ficar sem dar risadas. Eram muito diferentes. Enquanto ela era super viajada e gostava de filosofia, ele estava começando a cuidar das fazendas dos pais e estava pegando aquele palavreado de peão pantaneiro. Resumindo, ela estava bebendo champanhe e ele pinga, ela comendo foie gras e ele carreteiro, e o mais importante, com muito orgulho e sem a menor chance de achar que tinha vida melhor do que essa. Mas estavam se entrosando, às vezes as diferenças se atraem mais que as semelhanças. O passeio foi engraçado e inesquecível. Lembro dele contar como teve o seu chapéu novinho, de não sei quantos mil cruzeiros, totalmente destruído por seu cavalo:

- Era um alazão, redomão ainda, e quando quis dar uma negada comigo, cheguei a espora por baixo e o chicote por cima. O bicho pulava alto e corcoveava de um tanto que nem dançar tango era tão difícil como acompanhar o lombo daquele bicho endiabrado. Quanto mais ele pulava mais eu chegava a espora e o reio nele. Era a hora de definir quem mandava em quem ali. Foi quando caiu meu chapéu, Panamá novinho, comprado na Bolívia, daqueles de aba larga e engomado, que fica no formato que você quer. Parece que a "porra" (demos uma arrepiada na "porra") do cavalo, vendo que não conseguia me derrubar, resolveu se vingar no chapéu. Tinha recém chovido e estava aquela laminha, e o chapéu ficou embaixo e parecia que ele me falava: “Não tiro você das minhas costas, mas olhe o que faço com seu chapéu.” E pulava só em cima do panamá , que foi de retorcendo todo e de branco não tinha nem o lado de dentro mais.

Todos deram muitas risadas, quando a minha namorada começou a fazer perguntas a sua cunhada, para ver se ele deixava ela falar um pouco. Ela foi de soltando e dizendo que já tinha estado em Paris, a cidade luz, em Londres, a cidade séria, tudo muito britânico, a Holanda, que flores maravilhosas, Alemanha, com sua organização impecável. Nós todos, que nunca tínhamos saído do Brasil na época, ficamos encantados, mas ao mesmo tempo meio sem assunto. Quando alguém falou sobre as dificuldades de comunicação para ver de dava corda a conversa, ela resolveu dar uma esnobada dizendo que falava varias línguas, mas o inglês, francês e espanhol, fluentemente. Foi quando veio a pérola e o cunhado olhou para ela e falou:


- Minha nossa, então você é uma troglodita.


Só paramos de rir quando a deixamos em casa, e o pior, ela era quem mais ria.
Não precisou mais que isso para tornar aquele passeio inesquecível, isso há 40 anos atrás.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Quem aguenta?

Devia ser por volta de 1985. Lembro com certeza do ano, pois eu já estava morando em Corumbá e trabalhava no Marinho, na sala que ficava no escritório do mercado interno, no mesmo prédio de tio Patrão e Ivan. Papai com Tontonio ficavam na exportadora que é na mesma quadra mas na outra extremidade. Todos os dias, nos horários mais tranqüilos, íamos no café São Paulo tomar um cafezinho, antecedido por um copo d'água gelado. Costume da região que é muito quente: uma combinação perfeita para matar a sede. Numa dessas idas minhas para convidar os dois para o cafezinho, não encontrando papai em sua sala, fui procurá-lo pelos depósitos. Ele que separava toda a mercadoria para o despacho. Era o gerente de vendas, vendedor, faturista, chefe de depósito, chefe de almoxarifado e não entregava as chaves de nada disso para ninguém. Andava parecendo São Pedro, com tudo pendurado no cinto. No depósito dos fundos, encontrei ele com o Dorival e mais um cliente, pintando umas lonas. Ele mandava dois carregadores colocarem a lona dobrada no chão, vinha com umas letras daquelas feitas em chapa fina e vazada, montava o nome e com um pincel, pintava o nome da marca no canto da lona. No começo dei até idéia de usar tinta spray para não borrar os cantos, logo aperfeiçoado por ele, para pintura com pistola de ar, que ficaria mais barato. Como vi que ele estava usando o nome de uma lona famosa, perguntei o que ele estava fazendo e começou um diálogo que nunca mais esqueci:
- Uai, não tá vendo? Colocando nome na lona. 

- Mas não deveria vir com o nome já?

- Aí ficaria mais caro. Esse povo é muito esquisito. 15,00 o metro sem nome e 20,00 com nome. Pinto ele por 0,50.
Não lembro dos valores porque já mudou a moeda uns par de vezes mas era dessa ordem.

- Mas papai, isso não é falsificação?

- Como assim? Falsificação se fosse de outro fabricante. É o mesmo.

- Mesmo assim, pai. Às vezes o cara tem duas linhas, uma cara e uma barata e o nome é para poder diferenciar. 

- Filho, aprendi a fazer isso com o turco aí da frente. O vendedor me falou que a porra da lona é a mesma. O comprador é esse boliviano aí, dom Rafael, que esta me ajudando a escrever o nome. Queria que você me dissesse a quem estou enganando? Você acha justo eu pagar mais pela porra de um nome? 

- Pai, ele não vai usar a lona. Ele vai revender. Você esta ajudando ele a tapear outras pessoas. A lona não deve ser igual. Às vezes eles refugam no controle de qualidade e mandam sem nome para não comprometer a marca. São pequenos defeitos. 

- Isso quando a empresa é mais ou menos séria. Quando é séria de verdade, botam outra marca, ou escrevem que é de segunda, ou standart, e a outra de luxo. Mas não é isso não. Eles mudam só a margem de lucro. Procura defeito aí, se encontrar eu paro.

Nem perdi tempo pois não encontraria e mesmo que tivesse, naquele momento ele não ia concordar. 
Fui tomar café sozinho aquele dia e um pouco preocupado. Uns dias depois ele me chamou no depósito, queria mostrar que a idéia da pistola tinha dado certo. 
Pronto, pensei, agora a falsificação vai ser incrementada e com minha participação. Pura que pariu.
Cheguei no depósito e vi o serviço. Tinha que tirar o chapéu e dizer que meu velho era foda mesmo. Estava lá o novo molde da forma, agora já feito completo e não letra por letra e escrito nos tamanhos normais "LOCOMOTIVA"
 e embaixo, na própria chapa, completado "By A.Marinho".
 Ele olhou para mim e falou:

- Satisfeito. Falsificador não assina. Podem falar que é replica, e te garanto que em pouco tempo, essa vai valer mais.

Por incrível que pareça, o turco da frente quis acrescentar o A. Marinho e, por mais incrível ainda, ele não deixou. Sugeriu que escrevesse, "Turco, em frente do A. Marinho", ou seria falsificação. Quem agüenta?

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Enganos

A lembrança passada foi sobre coincidências, que é aquele fato pouco provável que vem a ocorrer. Entretanto existem outras coisas que, às vezes, nos levam a procurar explicações fora da lógica e acabam ficando completamente fora da realidade.
Eu e Tontonio tínhamos um quarto de solteiro enorme. Tinha uns 6 metros de largura por 12 de comprimento. Talvez 5x10, e o fato da gente ser pequeno fazia ele maior. Como ele esta lá ainda, um dia vou passar uma trena nele para conferir. A minha cama ficava do lado da porta balcão que dava para a varanda e a do meu irmão ficava ao lado da minha, dando para a porta de entrada do quarto. Tinha um corredor interno que comunicava a escada com todas as peças do andar superior, quartos e banheiros. A invenção da suíte foi junto com o controle remoto da televisão. O interruptor de luz ficava junto a porta de entrada do quarto e conseqüentemente mais perto da cama dele. Me lembro que ele deitou por último, mesmo isso tendo acontecido há mais de 50 anos e esqueceu a luz acesa. Depois de deitado falou:

- Você não urinou ainda. Quando for, apaga a luz.

- Boa tentativa. Mas já mijei e você que deixou a luz acesa.

- Você é mais novo, pô! Apaga lá.

- Vai se ferrar. Você que esta mais perto do interruptor.

- Vou dormir com a luz acesa então. Ela incomoda você e não a mim.

- Papai vai ficar puto e vou contar que você que deitou por último e não apagou.

O tom de voz e o palavreado foram ficando mais forte e já estava de filho da puta pra cima, quando a luz apagou sozinha. Foi aquele silêncio total naquela escuridão. Parece que passou o mesmo tempo para cair a ficha que alguém do além, não gostando daquela discussão, resolveu interferir apagando a luz. Como um raio, ou como dois raios, catamos o essencial, colcha e travesseiro, e despencamos para o quarto de mamãe. Se alguém pensar que, eu com 11 anos estava com medo de assombração, quero lembrar que meu irmão é três anos e meio mais velho e saiu na frente.
Dormimos do chão do quarto dela e, antes, brigamos mais um pouco, um xingando o outro baixinho, para não acordar os velhos, e também para diminuir o medo.
Se não comentássemos o acontecido no almoço do dia seguinte, o credito pela apagada da luz ficaria por conta de forças do além, mas papai começou a rir e esclareceu. Ele tinha levantado para ir ao banheiro e do corredor escutou o bate boca e ficou preocupado de largarmos a luz acesa. Como sempre que fazíamos isso ele falava que não era sócio da Ligth, resolveu encerrar o assunto e apagar para a gente. Fez isso do corredor mesmo, achando que tínhamos visto ele e foi para seu quarto. Como vacilamos na corrida, quando chegamos ele já estava deitado e ainda acompanhou os cochichos. Fingiu que estava dormindo, pois se víssemos que ele tinha ouvido a baixaria, teria que nos executar e aquela hora não era oportuna. Aproveitou para nos explicar que as coisas mais lógicas são as últimas em que pensamos, principalmente quando estamos com medo e completou falando:

- Forças do além, só na cabeça de vocês.

Mas foram as forças do além que nos livrou daquela puteada e possível castigo naquela hora da noite.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Coincidências

Tem coisas que achamos que são do além, mas no fim são apenas a ocorrência do pouco provável. Tudo pode acontecer e se você coloca o número de tentativas tendendo ao infinito, a probabilidade de acontecer aquela previsão tende a 100%. O que impressiona a gente é um fato raro acontecendo em um momento oportuno e muito cedo.
Eu devia ter uns 11 anos e fui ao cinema assistir ao "Homem sem cabeça", daqueles filmes de terror feitos em 1961. Da para imaginar os "efeitos especiais" da época. Mas resumindo a história, era um cara que foi condenado à morte por decapitação e para não entrar no Paraíso, essa era a lenda, a cabeça foi enterrada separada do corpo. Como ele era inocente a cabeça comandou o corpo, depois de enterrado, para sair de onde estava e ir buscá-la para ficarem juntos, mas antes o corpo resolveu se vingar dos que tinham feito aquilo com ele.
A sessão era das 20h às 22h no cine Tupi. De lá até a minha casa eram duas longas quadras na rua 7 de setembro, que era super arborizada e, por isso, mal iluminada. Fui com amigos que moravam em lados postos. Estava sozinho, eu e o homem sem cabeça. Mas eu já era um homem e fui. Cagando nas calças, mas fui. Cada vento que movimentava um galho e fazia uma sombra se mexer, eu acelerava o passo. Cheguei em casa correndo.
Entrei na sala, onde tinha a escada que levava ao andar superior e estava o meu quarto. Todos dormiam. Ai continuou as coincidências. Fui no interruptor de baixo que acendia a luz da escada e quando o acionei a luz não acendeu. Ele era daqueles de dois botões e ligado em paralelo com outro igual que ficava no topo da escada. Se um dos dois estivessem parado numa posição intermediária o outro vão funcionava. Estava muito escuro e isso fez o medo virar pavor. Já estava achando que era coisa do homem sem cabeça. Fui subindo as escadas e tateando a parede querendo chegar no interruptor de cima e acender a porra daquela luz.
A hora que eu peguei no interruptor, uma outra mão pousou sobre a minha. O que senti na hora é indescritível e até hoje, passados 50 anos, eu me lembro da descarga elétrica que atravessou meu corpo. O cabelo se eriçou todo e o grito foi seguido de um salto para trás, onde tinha uma escada de mármore de 20 degraus, 15, um patamar, uma quebra de 90 graus e mais 5. A sorte é que nessa confusão a luz se acendeu e o vôo até o patamar foi visual e não por instrumentos. No trajeto aéreo deu para escutar a voz da Pura, a boliviana que dormia em casa, gritando “minha Nossa Senhora de Guadalupe”.
Ela tinha escutado o barulho da minha chave e foi se borrando toda ver o que era, achando que era um ladrão. O trajeto dela levou exatamente o mesmo tempo que o meu. Primeira coincidência. Exatamente nesse dia o interruptor de cima ficou numa posição neutra. Segunda coincidência. E eu que era corajoso estava voltando de um filme de terror. Terceira coincidência. Soma isso tudo e o resultado foi um guri todo cagado. Ainda bem que ninguém viu, a Pura deve ter sentido o cheiro mas deve ter achado que era dela.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

O crítico

Pela primeira vez, após contar 267 passagens da minha vida, recebi uma crítica... e mordaz. O cara me chamou de chato. Não concordou com minha opinião sobre armar a população de bem e já baixou o nível, dizendo "já que me considero capaz," julgou por mim e que "ninguém consegue me ler até o fim", julgou por todos os outros. Como não tenho muitos comentários no próprio blog, não posso deixar de responder a este quase único observando que:
1) não foi o primeiro comentário que ele fez;
2) ele acha chato o que eu escrevo e mesmo assim lê e comenta.
Isso é típico dos "muito" chatos e só por isso vou responder, por aqui, a essa crítica.
Já houve uma consulta pública e de nível nacional sobre o desarmamento e vimos o que pensa a esmagadora maioria da população brasileira. Todos devem se julgar "inteligentes que nem eu". Devia ser feito outra, sobre o armamento agora, mas não de forma indiscriminada, e sim após treinamentos e exames, nos moldes da carteira de motorista.
Preocupado em conseguir que ele me leia até o fim, vou ser sucinto e ir direto ao que interessa e que não é a estatística em si mas o resultado final. Não adianta você ter uma porcentagem baixa se a quantidade de ocorrência é alta. O que tentei explicar e parece que não consegui, pelo menos para ele, é que você diminui o número de mortes diminuindo o número de assaltos, mesmo que a porcentagem de mortes por assaltos aumente. Não é tão complicado assim. Para o assaltante a situação ideal e a proposta por ele. Estar preparado para entregar tudo e não reagir a nada. Recebe ameaça, entrega até as calças. Concordo que a vida é mais importante que qualquer bem que você tenha, mas não estou propondo armar ninguém que não seja treinado antes para enfrentar aquela situação, e não para defender unicamente os seus bens, mas também a sua dignidade.
Quem fez o serviço militar, com um ano vai para a reserva, e em caso de guerra é chamado para defender o seu país, colocando a sua vida em risco. No pensamento do meu crítico, deveríamos entregar o país também? Da mesma maneira que somos treinados para defendê-lo, em caso de necessidade, tínhamos que ser treinados a defender o que conseguimos com trabalho honesto e que o governo, apesar de nossos impostos, não nos garante.
Agora quero me dirigir especificamente ao meu crítico. Obrigado por ser um leitor e comentarista assíduo (mais de uma vez) apesar de me achar um chato. Também te achei um. Cordiais saudações.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O Resgate

Era sábado e estávamos em casa almoçando, como de praxe, com os filhos e netos. Era um cozido e estava delicioso. A sobremesa era salada de frutas com creme de leite, e na hora de servi-la que o telefone tocou. Minha nora Paty quem atendeu, atendeu mas não entendeu, e foi o inicio de toda confusão. Passou o fone para Bea que, assim que o colocou no ouvido, levantou da mesa e começou a ficar branca e só falava:
- Calma que não estou entendendo nada.
Na terceira fez que repetiu essa frase, completou.
-Mena, fica calma, estou indo ai.
Foi quando pulamos da mesa, eu e os três filhos.... sem comer a sobremesa e em três carros.
No caminho ela foi me contando o pouco que tinha entendido. O Cauto, seu cunhado marido da Mena, voltando de Santa Gertrudes, tinha caído com o avião. Depois do susto inicial, a um mês atrás tínhamos perdido um amigo em acidente com esses pequenos aviões, começamos tentar a entender o acontecido e só sabíamos que ele se comunicou por rádio com algum avião que estava por perto avisando que estava em pane e faria um pouso de emergência, e depois disso não fez mais contato. Chegamos à casa de Mena e parecia filme de terror, ela não parava de chorar, falava entrecortado de soluços, dizendo que ele caiu na Caieira e estava com o filho Gabriel. Marido e filho, único homem, num acidente de avião. É dose alta para qualquer um.
Conseguimos acalmá-la um pouco dizendo que até agora, o que sabíamos era que ele fizera um pouso de emergência e não que caíra. Era uma situação bem diferente e ele era um piloto experiente. Expliquei ainda que Caieira, que naquele momento já tinha virado uma montanha para ela, era uma merda de um morrinho, muito baixo e único nessa rota e não tinha como ele trombar nele, ainda mais avisando um colega antes. Água com açúcar para todos e vamos acalmar para ver o que fazer. Nisso chega Emílio com a esposa, primo dela, que foi quem recebeu a notícia do piloto. Dividimos a turma, ele iria para o Dac conseguir mais informações, as vezes ele consegue falar por radio do solo, eu falaria com o almirante para conseguir o helicóptero da marinha para uma busca e possível resgate. Como isso era mais demorado, tinha todo um procedimento a cumprir, eu mandaria o Zé Mauro fazer um sobrevôo na Caieira, na rota Corumbá - Santa Gertrudes para tentar achar o BGZ.
Na saída da casa de Mena, sem ela perto, o Emílio me deu o resto da notícia que me preocupou bastante. O ELT do avião tinha sido acionado e seu sinal recebido em Curitiba. A coisa era mais grave. O ELT é um aparelhinho que começa a emitir sinal de socorro após um impacto mais forte na aeronave. Se ele tinha pousado, não foi dos pousos mais bonitos, pensamos. Conseguimos interromper o domingo tranqüilo do almirante e fomos muito bem recebidos. No instante em que ele ligava para a base para providenciar o deslocamento do helicóptero da marinha, recebi um telefonema de Bea. Cauto estava vivo e tinha chamado Mena por telefone e passado as coordenadas onde ele estava e, além disso, só conseguiu falar que acesso era só por barco, que nem helicóptero chegava lá. Não tinha onde pousar. Passamos as coordenadas para o Almirante com a informação do acesso e fomos para meu escritorio consultar o Google Earth e ver onde estava o avião. Plotamos as coordenadas e vimos que estava a 4 km da Caieira e no meio de um brejo cortado por pequenas vazantes. Nenhum lugar seco para pousar um helicóptero. Avisamos o almirante do problema e ele se prontificou de ver um helicóptero da Aeronáutica, desses com guincho e puçá para resgate sem necessidade de pouso. Imaginei Cauto pendurado numa corda e içado para um helicóptero no ar após ter caído com um avião. Não ia ser fácil e ele ia se cagar todo.
Quando íamos para o aeroporto para despachar o Zé Mauro para fazer o primeiro contato visual com o Cauto, Mena teve a idéia de fazer uma mala com alguns artigos de primeiros socorros para eu jogar a ele. Quando fui pegar a mala que vi como ela ainda estava nervosa. A bicha era maior do que a minha quando vou passar 15 dias fora de casa. Para atirar aquilo do ar, só tirando a porta do avião e se por acaso atingisse o Cauto, o sobrevivente da queda não sobreviveria a malada. Tirei o garrafão de água de 5 litros e deixei uma garrafinha de 500ml, deixei uma única maça do lote de 4, um pacote de bolachinha das que eu mais gostava das 18 que estava dentro, e o cobertor. O resto ficou, inclusive uma laterna megalite de 3 kg. Trocamos a mala por uma sacola impermeável e de um tamanho que passasse pela janela basculante do avião. Dividimos a turma. Fui com Guilherme encontrar o Ze Mauro e Beto e Daniel foram para o corpo de bombeiros tentar algo por lá. O Zé Mauro que já estava com o OVX no jeito, quando viu a mala, fez nós irmos juntos.
Uns minutos antes de decolarmos o Almirante nos ligou avisando que estava na hora limite do helicóptero de busca e salvamento sair de Campo Grande e chegar de dia ainda para o resgate. Concordamos que de puçá, ia dar certo e decolamos juntos, nós a 10 minutos do Cauto e a Busca e Salvamento de Campo Grande, a duas horas de vôo. Apesar de termos as coordenadas exata e dois GPS, o do avião e um portátil de mão, demos umas 5 voltas para avistarmos o avião. No banco de trás e tendo acesso as janelas dos dois lados, na quinta passada consegui avistar a ponta da asa do BGZ, sobressaindo do meio de um cambarazeiro. O homem tinha feito um pouso de tuiuiú. O avião estava com uma asa em cima da arvore e a outra tocando a água. Sobre o avião, dando tchau para nós, o comandante Cauto. Estava inteiro e agora só faltava lançar a mala da Mena. Zé Mauro fez o procedimento padrão de afastamento, curva de 360•, e reduzido e flapeado fez um razante sobre o Cauto.
Pela janela da esquerda, eu atrás do piloto, esperei o momento certo, calculei a velocidade do vento, o arrasto que a mala ia ter no ar, velocidade do avião, e fiz o lançamento. A mala descreveu uma parábola invertida e foi caindo, caindo, caindo e eu seguindo aquela mala vermelha com os olhos e me contorcendo todo, como se fosse conseguir mudar a trajetória da bicha. Caiu longe pra cacete. O Zé Mauro ainda comentou que ele tiraria a roupa e peladão pegaria a maleta. O que não sabíamos é que o Cauto já tinha achado água e bolacha do kit de sobrevivência do Zé Mauro. Resolvemos pousar na fazenda Caieiras a 4 km do acidente. De lá poderíamos falar com Corumbá e dar notícias que fizemos contacto visual com Cauto, tranqüilizando o povo. Telefone celular dentro desses pequenos aviões é impossível de se conversar. Você fala, mas não sabe se a pessoa escutou. Chegamos juntos com o primeiro barco do corpo de bombeiros. Tinham a idéia de ir a cavalo e de a pé até o Cauto. Era muita coragem, mas não tinha como fazer isso. Eram 4 km de água e como disse Ze Mauro, vocês podem até chegar lá, mas não vai ter lugar para dormir todos no avião, e agora a noite ninguém vai convencer Cauto de cair nessa água gelada com esse puta frio. Eles responderam: vamos torcer então para o outro barco ter mais sorte.
Foi aí que soubemos que o Daniel, meu filho, com meu primo Gelson tinham saído com outro barco de Corumbá com a idéia de subir o rio Pacú, que pelo mapa satélite parecia chegar mais perto e conseguir resgatar o homem, ou ao menos a mala, pois achava que ela tinha caído no meio de um corixo. A coisa estava meio descoordenada, mas tínhamos uma alternativa para o helicóptero. Os bombeiros quiseram fazer um sobrevôo para ver como estava a chegada desse rio no avião. Ficamos aguardando o Zé Mauro fazer isso com eles, que saiu meio contrariado falando que estávamos procurando jeito de trombar com o helicóptero que já devia estar chegando. Como não tínhamos a confirmação disso e não queria ligar novamente para o Almirante, já tinha perturbado ele por demais, fizemos o segundo sobrevôo. Assim que ele pousou já não tínhamos tempo de mais nada. Faltavam 20 minutos para o por do Sul e tínhamos que ir para casa e aguardar as notícias. Elas chegaram pelo radio do avião e antes de pousarmos em Corumbá, escutamos:
- Controle Corumbá, é o busca Aereo.
- Prossiga - respondeu o controle Corumbá.
- Busca Aereo informa que a operação de resgate foi um sucesso. Estamos com o sobrevivente a bordo e passando muito bem. Cumprindo normas favor providenciar ambulância para recebê-lo.
A aventura do Cauto tinha acabado, e graças a Deus, da melhor forma possível.
Aconselharam-me a fazer uma entrevista com ele e escrever a mesma história vista pelo angulo do piloto. Vou pensar, talvez valha a pena pelo milagre do telefone. É que o homem é duro de falar e vai ser mais difícil tirar essa história dele do que o próprio resgate.