quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Terceira medida extrema

Rafael tinha dois anos e Guilherme estava para casar. Fui com Bea comprar uns vinhos no pão de açúcar, para a festa de casamento, no carro de Laura. Eu e ela na frente, Rafael e Meire, a melhor babá do mundo, no banco de trás. Estávamos parados no trânsito quando alguém bateu muito duro, com um ferro, na minha janela. Levei aquele baita susto e vi que era um assalto. O vidro estava um dedinho aberto e o ladrão enfiou o seu ali. Foi quando entendi o termo de "está um dedinho aberto". Como vi que ele estava armado, fui abrir o vidro para passar o dinheiro ao puto. Como o carro não era meu e tinha os comandos trocados. Ao invés de abrir, eu fechei e prendi o dedo do filho da puta na janela. Se o farol abrisse naquela hora, poderia até pensar em arrancar e deixá-lo sem dedo, mas não tive essa sorte. Quando vi que ele ficou nervoso, troquei o comando e abri a janela. Ele me pediu primeiro o relógio e quando passei a ele, pediu o dinheiro. Levei a mão no bolso lentamente, como é recomendado nas propagandas do governo, e quando ele viu que era muita grana, devia ser algo em torno de uns mil reais, me devolveu o relógio e ainda agradeceu, dizendo que sou um cara de sorte de ele estar calmo e perceber que o lance do vidro foi involuntário. Passei um mês sonhando em matar todos os ladrões e bandidos das maneiras mais diferentes possíveis. Tiro de 12 no peito para o ver ser lançado 3 metros para trás era a minha preferida.
Tentei tirar porte de arma e não consegui.
Pago todos os meus impostos e ao invés de segurança, a única coisa que recebo do governo é o conselho de passar tudo que o ladrão quiser, bem devagar, e nem pensar em reagir. Sequer consigo o direito de portar uma arma para poder fazer a minha própria segurança. Será que o governo não percebeu que ladrão não paga imposto do que rouba, ou os bestas somos nós que nem deduzimos do nosso a parte roubada. Hoje o assaltado já nem faz mais queixa a policia. Não adianta de nada, é só mais um BO para encher as gavetas. Não conheço ninguém que foi assaltado na rua, deu queixa e teve seus pertences recuperados. Não consigo entender como estamos ficando covardes e sendo ensinados, através da mídia paga pelo governo, que sendo assaltados devemos entregar tudo sem reagir.
Dizem que arma é um perigo. Eu também acho, principalmente se eu estiver do lado do cano e um bandido drogado do lado do cabo. Como o governo não consegue ter um efetivo policial decente para defender seus cidadãos, devia armá-los e de preferência, melhor do que os bandidos. Voltaríamos à época dos faroestes. Porte de arma seria que nem carteira de motorista. Fez um curso mequetrefe tira porte para uma 22, seria a carteira A, que só te permite dirigir carros. Faculdade em porte de arma dá o direito a um 38, seria o equivalente a tipo B. Mestrado a um 44 magnum. Doutoramento daria o direito a uma AR15, que seria os motoristas de carreta. Poderia morrer muita gente inocente, mas não menos do que agora. Ladrão ia pensar duas vezes antes de te abordar e pedir para você passar tudo a ele. Além de correr o risco de assaltar um "mestre", poderia ter um "doutor" por perto. Dizer que população armada é um perigo é balela. Um carro é uma arma muito maior que qualquer revólver. Se quando a indústria automobilística começou e no primeiro acidente com morte aparecesse um "gênio" para proibir o uso de carros por particulares e os enquadrasse como armas, só teríamos transportes coletivos hoje em dia. Riscos corremos todas as horas, quando você vai para uma cirurgia, quando entra em um avião ou mesmo taxi, mas confiamos que a carteira que autoriza médico, piloto e motorista a fazer a sua função é verdadeira. São pessoas treinadas e habilitadas. Será que usar um revólver é mais difícil que um bisturi, ou um automóvel? Eu sou engenheiro e tenho mestrado em calculo estrutural. Isso me permite construir prédios de vários andares, pontes para passar milhares de veículos por dia, barragens para represar milhões de metros cúbicos de água, e se for incompetente em uma dessas funções, posso matar um monte de gente, inundar cidades e até destruir países. Fui eu que calculei os servo-motores que sustentam as comportas da tomada d'água de Itaipu. Deveria poder portar um 44 magnum após fazer os cursos adequados, treinar em usar de maneira e na hora certa, como todo sujeito habilitado. De tempo em tempo teria que renovar sua carteira e fazer um treinamento com simulador e tudo mais. Pode parecer loucura, mas não maior que pensar que o governo faz propaganda gratuita para o bandido, mandando você entregar tudo sem reagir. No nosso pantanal, todos andam armados e tenho certeza que o índice de acidentes com armar de fogo não é diferente de qualquer outro lugar. Usam, sabem usar e a respeitar quem esta usando. Na minha cidade tem dois a três assaltos por dia, enquanto assalto em fazenda é a coisa mais difícil de se ouvir falar. O bicho sabe que será recebido a bala e perseguido até ser pego. A solução está aí, mas o governo achou de entrar numa campanha de desarmamento. Acho que o sindicato dos assaltantes que entraram com uma representação solicitando isso e foram atendidos.
Gostaria de saber das estatísticas, se depois disso o crime, ou mesmo os raros acidentes, amplamente noticiados, com armas de fogo diminuíram. Aposto que não, muito pelo contrário. Agora assaltam em arrastão. Entram 3 putos em um restaurante, fecham as portas e fazem um assalto coletivo, carregado tudo de todos. Enquanto não aprovam alguma medida extrema continuaremos a ser roubados. E a ficar com o rabo entre as pernas, mas isso já aprendemos bem. Viva o faroeste.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Carteirinha de viciado

Não conheço nenhum cara decente e viciado em drogas que, em seus momentos de lucidez, não se arrepende de ter começado. Vive chorando pelos cantos e pedindo apoio e compreensão da família e prometendo que um dia vai sair dessa. Todos, sem exceção, reconhecem que não deveriam ter entrado, mas agora é tarde, mas mesmo com todo esse arrependimento vivem alimentando o tráfico com seu vício. Esses, os bonzinhos, já os demais saem assaltando e até matando para conseguirem um dinheirinho para comprar seu vício.
Depois da doação compulsória, que resolveria dois problemas simultâneos, o da fila para receber órgãos transplantados e o de fazer com que muito bicho ruim servisse a sociedade de alguma forma, o próximo passo seria acabar com o tráfico de drogas. Atacar o mal pela raiz, ou seja, acabar com o mercado consumidor. Se o vício é uma doença, vamos fazer uma carteirinha para o bodado. Seria, literalmente, o louco de carteirinha. O nego que for pego portando drogas e não tiver a carteirinha vai em cana por tráfico. Quem for viciado, tem uma data limite para tirar a sua autorização de porte de drogas. Após essa data, onde todos os viciados estariam devidamente cadastrados, e não se autorizaria a mais ninguém se tornar um viciado. Essa desculpa de ser uma doença seria amplamente divulgada e a partir daquela data do fim da emissão, quem entrasse nessa, seria de forma consciente que estaria cometendo um crime e ponto final. Não tem desculpa que o negócio é bom e o cara se vicia sem querer. Sexo também é bom e nem por isso você pode sair por aí estuprando toda mulher gostosa e provocativa que sai na rua. Com o tempo os consumidores iriam diminuindo, morrendo ou se curando, o governo forneceria drogas de qualidade para os associados de carteirinha, e o comércio seria pouco lucrativo.

Essa idéia mais a da punição pela doação compulsória, onde os traficantes teriam suas córneas retiradas, ceguetas eles teriam mais dificuldades de fazer merda, o problema se extinguiria automaticamente. Talvez tenhamos que instituir a pena de morte para político corrupto evitando que eles monopolizassem o comércio das drogas atrás de uma pseudo legalidade. Estaríamos contra a primeira regra da doação compulsória, mas sabemos que todas as regras tem uma exceção. Nesse caso, seria essa.
Guilhotina para político corrupto.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Hino a Corumbá

Poucos corumbaenses conhecem o Hino de Corumbá inteirinho, e ao lê-lo com calma, senti como se ele tivesse sido escrito para mim e por isso quero ele em minhas memórias.

"Corumbá destes meus sonhos,
e dos meus primeiros dias
ainda sinto o calor
como raio de saudade
dentro do meu coração.

Os teus dias tão risonhos
Tem pra mim tanta alegria
até a lua com fulgor
Parece não ter vontade
de deixar este torrão.

Corumbá, eu quero ter (bis)
Sob o teu seu céu tão brilhante
Feliz viver.

Vejo encantos primorosos
nas tuas verdes colinas
em tuas águas serenas
no teu céu onde o cruzeiro
cintilante sempre está

Em teus prados tão mimosos
marchetados de boninas
em tuas noites amenas
em teu luar tão fagueiro
tens luar tão fagueiro
tens encantos Corumbá!

Corumbá, eu quero ter (bis)
Sob o teu seu céu tão brilhante
Feliz viver.

E quando teus horizontes
A frouxa luz do poente
se matizam de mil cores
de saudade fica presa
nossa alma juvenil.

Rendilhada de altos montes
tendo aos pés àguas silentes
bela terra dos amores
Corumbá, és a princesa
Do ocidente do Brasil!

Corumbá, eu quero ter (bis)
Sob o teu seu céu tão brilhante
Feliz viver."

Foi escrito por Luis Feitosa Rodrigues e só fiquei sabendo disso agora, depois de velho, apesar de tê-lo cantado muito, sempre que embarcava no trem da Noroeste indo ou vindo de São Paulo quando lá estudava.
Muito lindo!

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Doação Compulsória

Doação compulsória pode parecer uma coisa antagônica ou paradoxal, uma vez que doação significa dar de maneira espontânea e compulsória é uma coisa obrigatória, mais não acho termo mais adequado para a lei que gostaria de ver implantada nesse país, talvez na próxima ditadura ou monarquia que é a melhor forma de regime que existe, desde que o ditador seja o cara mais inteligente e honesto da sua comunidade e só aí está o problema. Mas vou deixar a idéia para o caso de alguém assumir e gostar dela. Não acredito que a implantem em regime democrático, pois tem muito bandido legislando e essa lei não os atenderia, muito pelo contrário.
Ela é baseado em dois princípios fundamentais e estão em ordem de importância:
1) Nada é mais importante que a vida humana.
2) Todo ser humano que vive em comunidade deve, de alguma forma, ser útil a ela.
Baseado nesses dois princípios irrefutáveis, eu sou contra a pena de morte, que pode atender ao segundo postulado, para aqueles sujeitos que cometem crimes graves, como os hediondos, mas vai contra o primeiro.
Agora vamos analisar um grande problema brasileiro, que é a fila para transplante de órgãos. Tem gente séria, direita e capacitada, morrendo ou inválidos, deixando de servir a sociedade, postulado 2, pela falta de doadores de órgãos. Se no nosso direito penal fosse incluída uma pena do tipo de doação compulsória, que dependendo do crime, poderia ser uma córnea, um rim, duas córneas, dois rins, um pulmão, pedaço do fígado e por aí afora, esse problema estaria resolvido. Crime muito grave, depena o cara, deixe ele em estado vegetativo e salva um monte de gente de bem. É absurdo termos falta de sangue nos hospitais. Com milhares de presos nesse país, que lesaram a sociedade e presos continuam a explorá-la, pois temos que alimentá-los para não sermos roubados ou assassinados em troca de um bem que trabalhamos para adquirir, como que não tira o sangue desse povo todo e abastece todos os bancos de sangue do país. Quem acha desumano não tem um parente ou amigo que está na fila aguardando por uma doação ou morto em um assalto idiota. Vai haver muita gente contra, vão montar ong's contra isso, então negocia. Redução de pena, do tipo um litro de sangue por um dia a menos na cadeia. Um rim "doado" reduz a pena em um ano. Uma córnea vale dois anos. Só criar a bolsa de órgãos e deixar que a lei da oferta e procura estabeleça os valores. Vamos salvar um monte de vidas e a contrapartida vai ser uns bandidos caolhos e mono rins andando por ai, mas que deram a sua contribuição a sociedade.
Imaginem os crimes políticos, você vota no FdP e ele em vez de se satisfazer com seu salário e defender os interesses da sociedade que o colocou lá, faz o que? Rouba-a. Isso devia ser considerado crime hediondo e devia valer duas córneas e dois rins. Fica fazendo hemodiálise e já aproveita e coloca essa máquina no fórum. Aí quero ver o nego não aparecer nas datas certas para o juiz quando estiver em liberdade provisória. Quando pego, o que já é difícil, o cara só é suspenso temporariamente, normalmente volta a se eleger e continua roubando. Não conseguiram nem aprovar que ladrão não pode se eleger. É o rajá colocando tarados no seu harém para cuidar das suas esposas. É o fim do mundo. Somos uns cornos mesmo. Mas quem sabe, em um futuro próximo, aparece um nego de coragem e introduz a Doação Compulsória. Faço campanha para ele.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Mattos

Outro dia eu encontrei com o Mattos de novo. Já falei dele aqui, da época de vovô. Ele começou a trabalhar na casa Marinho em 1940 e gosta de se lembrar daqueles tempos quando encontra comigo. Apesar de seus 80 e muitos anos tem uma memória fabulosa. Dessa última vez, começou me contando como foi a participação deles na introdução do fogão a gás em Corumbá, daquele modo engraçado dos antigamente:
-Todos os fogões eram a lenha e tinham aquela chaminé que ia pra cima do telhado. Os carroceiros entregavam as lascas já cortadas na medida certinha e o comércio desse produto era muito grande. Assim que saiu o fogão a gás, seu tio Alcides encomendou uns 200 para a fábrica e outro tanto de botijões. Passaram 30 dias e não venderam um sequer. O povo não entendia o porque daquilo, que ia queimar um combustível muito mais caro e ainda com o perigo de explodir tudo. Achavam a invenção mais besta do mundo. Quando viram que iam micar com aquilo tudo, o Alcides teve a idéia. Não se consegue vender uma coisa que não se conhece. Começou a instalar fogões nas casas dos melhores clientes, dando garantia que não explodiam, pois tinha um em casa há muito tempo (o que era mentira) e em 30 dias recolheriam de novo. Quem quisesse pagava o fogão com o botijão, quem não quisesse podia devolver e não pagava nada. Não teve nenhuma devolução sequer e 30 dias depois faltou gás na cidade e as reclamações foram ao contrário, que teriam que acender aquela porcaria de fogão a lenha. Em um ano 90% das residências tinham seu fogão a gás.
Quando ele me contou essa história e eu falei que desconhecia a mesma, ele completou:
- Você não sabe também da Exxom?
Nem esperou eu confirmar a negativa e já emendou:
- Quando eu entrei na firma, eles vendiam gasolina em lata, dessa Exxon que depois virou a Esso. Na realidade era em galão. Não tinha bomba de combustível. O cara chegava à loja e pedia tantos galões. Levava embora e ia abastecer o carro em casa. Era um tempo muito diferente desse nosso. Agora já me falaram que nem bomba vai precisar mais. Vão ligar o carro na tomada. Aqueles eram bons tempos e seu pessoal trabalhava muito e nunca vi portuguesada mais inteligente que aquela. Além de inteligente, eles tinham uma "inteligência".
Pela minha cara de "não entendi" ele completou:
-Tinha a Comissão Mista formada pelo Brasil e Bolívia para construir a estrada de ferro Corumbá - Santa Cruz. Os compradores tinham uma comissão, não porque faziam parte da "Comissão" Mista, mas para tirarem um por fora e a concorrência fez com que elas fossem aumentando. No final o lucro ficava com esses compradores, até que seu pai resolveu infiltrar um espião na empresa. Ele ganhava um salário dos Marinhos para passar os pedidos de compra antecipada. Aí seu pai ia e comprava tudo dos concorrentes. A mercadoria vinha toda de São Paulo e entre a passada do pedido por carta, ou a visita do viajante, e a chegada dela aqui era no mínimo dois meses. Na hora da concorrência só nós tínhamos os produtos e ganhávamos todas. Quando os concorrentes descobriram já tinha acabado a construção da estrada.
Ele contava isso e dava risadas. Agora o Mattos é dono de um restaurante. Fica na Avenida General Rondon quase esquina com a Frei Mariano e prometi que ia hoje lá. Dizem que a comida é muito boa, mas vou mesmo é para conversar com o velho Mattos. Ta certo que é um bom motivo para eu fugir de meu regime de calorias, que esta diminuindo a minha barriga e enchendo o meu saco. Vai ser um jantar nostálgico, mas tenho certeza que agradável e com histórias para originar outro Post. Aguardem!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Pratos inesquecíveis

Outro dia estava conversando sobre culinária e os pratos considerados inesquecíveis. Aqueles que passam os anos e o paladar fica na sua memória, registrado de uma tal forma, que quando você cruza com um parecido, lembra imediatamente do "original". Vovô Marinho veio de Portugal sozinho, deixando vovó Emilia e sua única filha na época, a tia Ana, para traz. Não tinha dinheiro para a viagem de todos e não sabia o que o esperava por aqui. Preparou o mínimo e mandou o dinheiro para a vinda de vovó e com ela veio a Isaura, sua mão direita e cheia como cozinheira. Lembro-me muito bem dela, já com os cabelos brancos, beirando os 60 anos. Mas inesquecível mesmo era seu bife na chapa. Era daqueles bem fininhos e feitos com a frigideira bem quente. Ficava bem passado e com a superfície meio queimadinha. Parece simples, mas tem 50 anos que como todos os tipos de bife, com todos os tipos de carne, e nenhum se iguala aquele da Isaura. Vai para o pódio.
Estava com 27 para 28 anos e fui para Recife, participar de uma concorrência, e fiquei hospedado num hotel, na praia de Boa Viagem, e acho que era esse o nome do hotel também. No primeiro dia, estava almoçando sozinho e comendo o que o garçom tinha sugerido, "lagosta no abacaxi". O cara pega um abacaxi inteiro, abre no meio, no sentido longitudinal, e cavuca o miolo. Parte do que saiu é cortado em cubos e vai para um molho branco onde tem pedaços de lagosta. Depois de pronto volta aquele creme para dentro do abacaxi. Como o abacaxi e a lagosta tem o mesmo tamanho e na medida certa de uma garfada, cada uma é um suspense, pois você não sabe de pescou uma lagosta ou abacaxi, e os dois por demais saborosos. Viciei no prato e passei três dias almoçando e dois jantando isso. Inesquecível número 2. No ultimo dia da nossa estada, chegou o gerente do comercial da empresa, o Adilson Wanderley, para finalizar os acordos que eu passei fazendo e jantamos juntos. Contei a ele sobre a lagosta e ele, que já conhecia o prato, me sugeriu um outro. Fiquei relutante, pois ao mesmo tempo que já o tinha comido 5 vezes, era a despedida. E se não gostasse da sugestão dele? Para resolver o problema ele se prontificou a comer a lagosta com abacaxi. Qualquer coisa nós trocaríamos. Pedi então a sua sugestão, a "moqueca de Siri Mole". Em quatro dias acrescentei dois pratos inesquecíveis a minha lista. O siri mole é aquele pescado a noite, pois está sem a sua casca dura, ou porque esta trocando ou porque não se formou ainda. Essa parte da explicação eu esqueci, mas a coisa era boa demais. Ficou com 3º lugar.
O bacalhau ao forno de mamãe, receita de vovó Emilia, com batatas, cebolas e tomate. Eu e papai comíamos uma travessa inteira e, apesar de ter muito azeite ainda regávamos mais ainda com aqueles de oliva puro. Fica em quarto porque tem que classificar.
O 5º lugar vai para o "Camarão a Provençal" do "Tomates & Bananas". Você fica exalando alho por três dias e ainda assim vale à pena.
Teve outros que deliciei ao longo da minha vida e de alguns nem consegui saber o nome direito. A avó de meu genro, a Dona Elisa, faz um prato armênio de carne com uma massinha, chamada Mantan, que é de matar. Você, simplesmente, não consegue parar de comer. Fica em 6º.
A "Sopa Leão Veloso" que eu e papai saíamos de Taubaté para comer no Rio de Janeiro, no "Cabaça Grande" era maravilhosa. Tinha todos os frutos do mar e vinha naquelas cumbucas de barro e super quente. A tinta do polvo fazia parte daquele caldo, tornando-o mais feio e gostoso, pois o aspecto não era bonito. Talvez seja injustiça classificá-la em sétimo mas não tem como baixar nenhuma das anteriores.
O 8º e último prato digno de nota vai para a rabada de nossa cozinheira Angela. Vem com batatas e feijão branco, bem molinho e com um caldo grosso. E um rabo que você tem que comer de joelhos, sem trocadilhos e nem segundas intenções, principalmente para os que conhecem a Ângela.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Corumbá

Corumbá esta na fronteira com a Bolívia no oeste do Brasil, na margem direita do rio Paraguai. O pessoal de fora, para tirar sarro da gente, fala que se o freio falhar nós paramos na Bolívia. Os mais abusados já falam que quem mora aqui são os que moravam lá e mandados para a PQP vieram parar aqui. Mas é tudo inveja, não tem lugar melhor que este para se morar. Falavam que aqui era o fim do Brasil e só depois de velho que vim a saber pelo Dr Alaer, que nem é daqui, que estamos na porta de entrada e não na dos fundos. Os emigrantes que saíram da Europa e para cá vieram, devido a dificuldade de subirem a serra do mar, não existia a São Paulo - Santos, desciam de navio até a Argentina, entravam pelo mar del plata, subiam o rio Paraguai e desembarcavam aqui em Corumbá. Alguns ficavam e outros seguiam para frente ou de barco mesmo para Cuiabá, ou pela Estrada de ferro Noroeste do Brasil, para São Paulo. Meus avós, tanto paternos vindo de Portugal, quanto maternos vindos do Líbano, desceram no primeiro Porto brasileiro, o Porto de Corumbá. Corumbá é uma boa cidade de se morar, mas no passado, muitas coisas eram melhores e deixaram saudades.
Sou da época em que as únicas ruas pavimentadas eram a frei Mariano e a Delamare e com paralelepípedos. A Avenida General Rondon, uma das mais importantes, era de chão batido e nela fazíamos buraco para jogar bolitas. Para diminuir a poeira o pessoal molhava a rua. Uma das imagens antigas que tenho na memória é a de tio Vicente, de pijamas e mangueira na mão, fazendo isso na rua 7 de setembro. A primeira tentativa de asfalto foi na rua 15 de novembro. Houve até inauguração e foi uma alegria ver aquela coisa preta, lisinha e que não fazia poeira. Alegria que durou pouco, pois devido à inclinação da rua e a temperatura de mais de 50 graus sob o sol, aquele piche derreteu todo e começou a escoar rua abaixo.
Os cines Santa Cruz, Tupi e o Anache, eram muito bons e nos proporcionaram momentos inesquecíveis. Sou do tempo que beijo na boca de namorada era só no escurinho do cinema. O nosso clube Corumbaense era palco de muitos bailes de férias, onde todos os namorados aproveitavam para dançar abraçadinhos. Era a única hora em que a rígida sociedade Corumbaense admitia que um rapaz pudesse passar os braços pela cintura de uma moça e ficar de rosto colado com ela na frente de todos. Como era bom. Era a hora das “encochadinhas”, dada as escondidas, que delícia. Hoje é tudo diferente, não tem mais o prazer da sedução, do escondido. É ripa na chulipa direto. Beijo na boca escancarada é na cara escancarada da sociedade.
Não tinha crack, cocaína, maconha. Era cigarro, Cuba Libre e para os mais avançados, no carnaval, uma lança perfume. Casa de prostituição, que nós chamávamos de Bordéu ou Zona, tinha que ter uma lâmpada colorida na porta, para não ter perigo de nenhum incauto inocente entrar naquelas casas de "mulheres da vida", olha como eram classificadas, sem saber. O nosso inicio sexual foi com profissionais, que é como tem que ser as coisas bem feitas. Teve muito treinamento antes, mas os finalmentes...

Aids, Hpv e outro monte de doenças sexualmente transmissíveis, não existiam. O máximo que se podia pegar era uma gonorréia, e chegava até a ser uma alegria para o pai acompanhar o filho ao médico para tratar. Era seu atestado de macho. Lembro-me da minha primeira e fui com papai no Dr. Fadah, que chegou falando:

- Examina o menino aí doutor e explica que ele tem que sossegar com esse pinto novo dele e não ficar colocando em qualquer buraco - Mas isso dito com muito orgulho.

Sexo antes do casamento com a namorada, nem pensar. E quem fazia acabava casando na marra, tinha que reparar o mal que fez à moça. Outros para evitar esse constrangimento, depois do acontecido, já marcavam a data, antes que dessem conta. Tem um caso de um amigo que estava na maternidade esperando a esposa dar a luz ao primeiro filho. Ficou na sala de espera com a sogra e rezando os dois, pois a mulher entrou em trabalho de parto depois de 7 meses de casado, e a velha não tinha dúvidas que era prematuro. Quando veio o médico com a notícia que nasceu tudo bem e de que o bebe pesava quase 4 quilos, ao invés dos parabéns, recebeu uma bolsada nas fuças da sogra, por ter comido a merenda antes do recreio. Quem casava muito rápido, como eu, que em seis meses, namorei, noivei e casei, quando nascia o filho todos faziam contas para ver se cumpria os nove meses. A minha Laura nasceu em 9 de fevereiro de 1974 e eu casei em 7 de abril de 73. Não percam tempo, foi na lua de mel. Mas em dezembro já tinha corrido um boato que Bea tinha tido um filho, era homem, e se chamava Tadeu.
Mas tudo isso faz parte de um passado por demais gostoso, se eu pudesse voltaria para lá.
Para ir às matinês de domingo, trocar gibis e ver Flash Gordom, com seus foguetes futuristas.
Para ir a noite à casa de Tia Dirce com meus pais visitar o vovo Marinho e ficar na rua brincando de "cola pau", "ovo na agulha" e "pegador".
Para escutar a sirene do moinho matogrossense tocando a uma hora da tarde, em ponto, comigo dentro do Sinca Chambord de papai e estacionado no mesmo lugar que ele parou na hora do almoço e eu roubei para dar uma volta.
Para ir no seu Ermínio comprar picolé de coco e comer de trás para frente e não dar o meu finzinho, cheio de coco para meu irmão pidão, Tontonio.
Ficar sentado na porta com a família vendo o movimento e conversando com seu Alexandrino e Dona Linota, nossos bons vizinhos. Não tinha essa televisão que a família fica assistindo o dia inteiro e faz com que você saiba o que acontece no mundo todo e ignore o que está acontecendo a sua volta.
Para ver a Alice com suas covinhas.
Tudo são coisas de meu passado e inesquecíveis.
Mas vou parar de lembrar-me dele, pois estou ficando com os olhos marejados de lágrimas e sou da época em que "Homem não chora".
Mas que saudades, meu Deus!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Férias em Piratininga

Fui de férias para fazenda Piratininga. Saímos todos e a Ema ficou nas mãos de Tadeu, meu sobrinho. Diretor, gerentes administrativo e de produção, tudo passeando.
Fomos em 12 adultos, 11 crianças, 3 babás e um cachorro. Não é fácil. Como diz Zé Mauro, os putinhos revezavam e quando a metade estava dormindo, a outra bagunçava e não deixavam a gente em paz em nenhum momento. Porrada saía a toda hora. As meninas, em minoria, se defendiam com mordidas. No embarque da primeira turma, foram no 206: Benjamim, Thiago, Leo, Bea, Laura e Alice, a cachorra. Meio tranqüilo. Já na segunda viagem, o Daniel foi fazer o despacho junto com o Marcelinho. Eram de adultos: Paty, Bia sua amiga de Piracicaba, Ana e Raquel, esposa do Marcelinho, e uma criançada louca. Tomas, Felipe, Bernardo da Raquel e o Leo da Bia. Começou uma correria em volta do avião e o Marcelinho já soltou:
- Isso é pior que mexer com vaca parida e aqueles bezerrinhos correndo para tudo quanto é lado.
Fui na terceira viagem, com Daniel e Livia, uma das babás, Lara e Antonio Pedro. Teve a turma do barco, Beto, Guilherme, Celso, Paulo, Rafael e duas babás. A casa parecia a república que os esalqueanos moravam em Piracicaba. Apesar da bagunça, tudo muito gostoso. Uma turma boa e bem disposta. Na mesa, nas refeições, você podia escolher qual conversa acompanhar, pois tinha no mínimo três acontecendo ao mesmo tempo.
O programa era tomar banho de vazante, comer muito, beber mais ainda e sair a tarde para ver os bichos. Daniel que é um fotógrafo de primeira, não perdia nada. Tudo registrado. No último dia saímos para o último passeio da temporada. De mulher, só a Bea, Thiago e Rafael, de crianças, eu na boleia, o Pepe na frente comigo. Atrás o Beto, Daniel e Guilherme. Apareceu o porco e ninguém conseguiu tirar uma foto dele. Tive que dirigir e fotografar o bicho ao mesmo tempo, mas consegui.
Agora estou no avião de volta. Vim na primeira viagem. Na hora de embarcar já levei um susto. No manche do avião estava um monte de fita crepe, daquelas transparentes, e já achei que tinha alguma coisa quebrada e fixada com aquele durex. O Zé Mauro viu que eu me assustei e já falou: "Isso é para eu fixar meu chapéu no para brisas quando estou voando com sol de frente”.
Descansado e pronto para continuar no batente. As férias na fazenda é uma função de muitas variáveis para ela ser boa ou não, mais a de maior sensibilidade é a companhia. Filhos, noras e netos são sempre nota 10. As visitas que fazem a diferença e dessa vez tivemos muita sorte. A Ana levou a Raquel, a Turca, com o Bernardinho, seu filho de 1 ano e 5 meses. Ele alegrou a casa junto com os netos. Não podia me ver que já começava a cantar o "é pic, é pic..." e ensinado pelo pai falava " é pica, é pica..." e no final terminava com a saudação de "pretinho, pretinho, pretinho", que é como o pai, quase dessa cor, o chama, apesar dele ser bem loirinho. O casal amigo da Patty, a Bia e o Pepe, nota 10. Topam qualquer parada e ela é muito engraçada. O filho de um ano e 4 meses, esse é meio tarado e tentou violentar minha cachorra. Vou botar o vídeo no youtube e vamos ver se não vou ser processado por pedofilia e ou zoofilia. A Bia, a amiga da Paty e dessas Piracicabanas legítimas, daquelas que árvore pequena é arvinha, e o legal é que ela tem o maior orgulho disso. Suas histórias, que já são muito engraçadas, ficam mais ainda quando contadas com aquele sotaque carregado.
Os netos quando enlotam assim ficam por demais excitados, impossíveis eles já são sozinhos, e toda hora tem mãe executando algum. O programa principal foi ensinar o Thiago, de nove anos, a dirigir. Já faz isso sozinho, numa L 200 mecânica e com o Rafael, já experiente de seus onze anos, dando palpites. Não é fácil, mas ele leva jeito. Começam com 9 e aos 14 já conhecem tudo. Agora estou comprando um Jipe para eles. Vai ficar na fazenda e vai ser só da netaiada. Segundo Laura, o impossível vai se tornar insuportável, mas a graça é testar os limites dos pais.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Compensação

Tudo na vida tem suas compensações. Acontece uma coisa ruim que te deprime e logo em seguida, às vezes não tão logo, acontece outra da mesma natureza que te alegra. Há uns 10 anos atrás, estava no aeroporto de Foz do Iguaçu, aguardava o Luis Mario fazer nosso plano de vôo para Corumbá, quando escuto uma conversa de um pessoal atrás de mim. Na hora reconheço a voz do Oswaldo Panzarini. Tínhamos trabalhados juntos há 20 anos na mesma empresa, eu na engenharia e ele no departamento comercial da Mecânica Pesada. Tínhamos participado de muitas concorrências juntos durante 10 anos e nos tornado bons amigos, assim eu achava. Levantei-me e me dirigi a ele todo sorridente, feliz com aquela coincidência, e apontando pra ele naquela roda de vários executivos, falei:
- Oswaldo Panzarini, você não mudou nada, nem a voz.
Como ele me olhou com uma total indiferença, eu completei:
- Não está se lembrando de mim? Reconheço a sua voz e você, me olhando, não se lembra? E a pressão? Continua alta? Não é possível que eu esteja enganado. Você não é o Oswaldo?
- Sou, mas não tenho a menor idéia de quem você seja.
- Tadeu Marinho, da Engenharia da Mecânica Pesada! 1974 a 1984 - Falei isso e fiquei aguardando a sua reação, esperando que ele me abraçasse, fizesse algum comentário do tipo que engordei, ou como os cabelos branquearam, e me apresentasse aos outros executivos que estavam com ele. Entretanto ele continuou me olhando impassível e não mostrou a menor reação, nem mesmo de que se lembrava de mim. Fui ficando sem jeito, com todos me olhando como se eu tivesse interrompido uma conversa importante sem motivos. Ele ainda falou:
- Não estou me recordando de você.
Minha salvação foi que, nesse momento, o Luiz Mario chegou e falou:
- Tadeu, nosso plano de vôo esta autorizado. Podemos decolar quando você quiser.
Virei para o pessoal que estava com ele e disse:
- Perdoem-me por ter interrompido a conversa dos senhores, mas fui parceiro desse sujeito ai há uns 15 anos atrás e por 10 anos, e ele não de lembra mais de mim. Vai acontecer igual com vocês. Passem bem.
Fui para meu Baron que estava a uns 20 metros e aparecia em todo seu esplendor pelo blindex da sala de espera. De cima da asa dei uma última olhada e vi aquele bando de homem me olhando com o Oswaldo Panzarini no meio deles. Fiquei muito puto e cheguei a me questionar quantas outras pessoas tinham passado pela minha vida e deixado marcas, sem que eu deixasse a mais leve pegada em suas vidas. Tínhamos o mesmo nível, estávamos em início de carreira, tudo igual. Eu recordava as feições, voz, nome, sobrenome e tudo mais dele, até que o filho da puta tinha pressão alta e o cara absolutamente nada de mim.
Fiquei muito tempo com isso na cabeça até que na semana passada aconteceu diferente. Estava na distribuidora de carne trabalhando quando me avisaram que tinha um Miguel no telefone. Quando perguntei "Que Miguel?" a secretária se enrolou toda e disse que era um sobrenome incompreensível e “irrepetível”. Na hora eu falei:
- Vourakis?
Ela abriu uns olhões e respondeu:
- Acho que é isso mesmo.
Atendi e era o Miguel Vourakis, companheiro de Mecânica pesada, igual ao Oswaldo, do departamento comercial também, igual ao Oswaldo, e que tínhamos feito amizade participando de concorrências pela empresa, igual ao Oswaldo, e isso tudo há 30 anos, 10 anos mais do que o encontro com o Oswaldo. Larguei o que estava fazendo e fui até o hotel me encontrar com ele. Tinha vindo com um grupo de amigos para pescar no pantanal e desde a chegada estava tentando me encontrar, pois queria saber como e o que eu estava fazendo. Ficamos duas horas conversando. Lembramos do Milton Cabral, Adilson Wanderlei, que infelizmente parece que faleceu, Jose Rui, Marcos Samecima, Osny Orseli e toda a turma do comercial. A medida que íamos conversando íamos lembrando de todo pessoal. No final, contei a ele sobre o acontecido há 10 anos e como tinha ficado contente em saber que ele estava bem e que se lembrava de mim, exatamente ao contrário do veado do Oswaldo.
Ele estava se aposentando, tínhamos a mesma idade e ia começar a passear com a esposa. Fiz ele prometer que a primeira viagem ia ser com a família para o pantanal. Ele me fez acreditar novamente que as coisas imprimem igual nas memórias das pessoas e o Oswaldo que era a exceção. Ainda bem.